A esta altura do campeonato, vai ficando nítido que a presidente Dilma distanciou-se de uma iminente abertura de processo de impeachment. O principal algoz de Dilma, Eduardo Cunha, desaba a cada entrevista de acordo com o roteiro traçado no Planalto no segundo trimestre do ano, quando ele se insurgiu contra o governo. Com telhado de cristal, Cunha deveria ser, como foi, inevitavelmente desmoralizado por ele mesmo e sua ganância por poder e dinheiro.
Depois de Cunha contar uma história para a boiada cair em coma, o risco de impeachment perdeu força, mas as ameaças sobre o mandato de Dilma e, principalmente, sobre a linha sucessória traçada por Lula estão longe de acabar. A história demonstra que, quando a economia vai mal, não adianta nem derrotar os nazistas. Winston Churchill, o maior líder da história recente do Reino Unido, foi humilhado nas eleições de 1945. Bush Pai deu uma surra em Saddam Hussein em 1991, mas, imprensado pelo aumento de impostos e pela estagnação da economia, não se reelegeu no ano seguinte.
Governos, enfim, caem porque a economia capenga, não porque se rouba à sua volta. Se o bolso do povo for recheado, se o emprego estiver em alta e a inflação em baixa, se sobrar algum para a viagem de férias e para o iogurte da família, o governante e seu partido vão ficando. Lembre-se: mesmo acossado pelas denúncias do mensalão, Lula não só se reelegeu em meio a uma euforia econômica como emplacou duas vezes a sucessora.
Para salvar o mandato e sua sucessão, portanto, Dilma tem de recuperar a economia. Para recuperá-la, tem de fazer o país crescer e conter a inflação. Para o país crescer sem inflação, tem de acertar as contas públicas. Para ajustar as contas públicas, há três caminhos: cortar despesas, aumentar impostos ou uma combinação de ambos. Mesmo com um tímido corte de gastos, Dilma optou pela terceira via, que tem se mostrado um fiasco até agora. Impopular, sem força e credibilidade, o governo não consegue impor o discurso do sacrifício nem sobre sua base política e social, quanto mais na oposição.
Fernando Collor desabou com o empurrão da corrupção porque a economia se descontrolou de tal forma, que quase ninguém mais ousava defendê-lo, por temer ser arrastado junto para o abismo. Dilma ainda não chegou a esse ponto, mas, com sua política econômica sabotada por líderes do próprio partido, a oposição não precisa de Cunha para queimá-la em praça pública: é só deixar os adversários internos e sua base social agirem à vontade.