Não pode haver melhor atestado de lisura para as eleições gerais celebradas ontem em Mianmar, as primeiras desde 1990, do que a provável vitória da oposição. A Liga Nacional pela Democracia, partido encabeçado pela Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, deve obter a maioria das cadeiras no parlamento, e as primeiras comemorações nas ruas da capital, Yangon, e em outras cidades se iniciaram no final da noite. A Liga é apenas um dos 80 partidos que disputaram a presidência e os parlamentos nacional e regionais, mas seu posicionamento contra o regime militar contribui para torná-lo depositário das esperanças de milhões de birmaneses.
As eleições foram saudadas como livres por observadores internacionais e pelas agências de notícias, mas estão longe de sê-lo. Entre os muitos impedidos de votar, estão cerca de 1 milhão de muçulmanos da minoria Rohingya. As forças armadas reservaram para si 25% dos assentos no futuro parlamento. A própria Aung San Suu Kyi foi impedida de disputar a presidência por uma disposição estrategicamente incluída na Constituição: quem tiver filhos de outra nacionalidade que não a birmanesa não pode ser votado. A Nobel, de 77 anos, tem dois filhos de nacionalidade britânica.
Contribuiu para a vitória do partido oposicionista o caudaloso comparecimento às urnas no dia de ontem. Durante todo o domingo, jovens e idosos, mulheres e homens fizeram filas sob sol e chuva diante das seções eleitorais. Estima-se que tenham votado 80% dos cerca de 30 milhões de eleitores registrados - um quórum de fazer inveja a qualquer democracia.