A tese de doutorado de 2013 da psicóloga H´Sen Hayward foi notícia no Wall Street Journal. Ela pesquisou três grupos com 50 pessoas cada, para saber quem era mais feliz: Grupo 1 - sofreram trauma severo em acidentes ocorridos há décadas; Grupo 2 - ganharam em torno de US$ 6 milhões na loteria na última década; Grupo 3 - não sofreram trauma nem tiveram a sorte de enriquecer de repente.
O que encontrou? O grupo pós-trauma foi o que mostrou maior índice de felicidade. Perdas severas levaram à superação de tragédias e ferimentos. A maioria desenvolveu forças, capacidades, deu novo significado à vida. A luta para cicatrizar lesões tornou-as determinadas, buscaram nova motivação, puderam ser felizes.
Os males do trauma são conhecidos, o estresse pós-trauma, ansiedade, insegurança, insônia, medo de novos eventos... Por outro lado, pesquisas publicadas na década de 80, estudando viúvas, identificam que muitas das destroçadas pela perda do marido emergiram mais próximas dos filhos, fortes para enfrentar a vida como não eram antes, de maneira que nem elas imaginavam poder ser. Outras comprovam a mesma coisa, na Turquia com sobreviventes de terremoto, na China com mulheres que sofreram câncer de mama.
A doutora Hayward conhece o assunto. Foi vítima de acidente no trânsito aos 16 anos, é paralisada do tórax para baixo. Diz que, apesar das dificuldades para se deslocar, banhar, vestir, entrar e sair do carro, sua luta por dar significado à vida resultou em felicidade como ela não imaginaria ter se não houvesse passado pelo trauma. Já visitou mais de 40 países, trabalhando inclusive com sobreviventes do genocídio de 1994 em Ruanda. Agora se prepara para ser médica.
Lembro detalhes de traumas que sofri aos seis e 18 anos, em acidentes de trânsito. Não esqueci detalhes do que me passou na cabeça desde a percepção do que ia acontecer até ter certeza de estar vivo e inteiro. Ficou o alívio por não haver morrido nem sofrido ferimentos graves, algum temor e a preocupação para que não se repita. A consciência de que o bem maior é a vida me tornou diferente.
Bom mesmo é estar vivo.