As mais novas vítimas do apedrejamento popular são os usuários de mobile - aparelhos que se conectam à internet em qualquer lugar. Seis da tarde, duas pessoas numa mesa de bar resolvem ler suas mensagens no celular.
Pronto. Logo aparece alguém com ar de superioridade para comentar: "Que horror, que falta de educação".
Esse tipo de observação é desconectada e babaca. Primeiro, porque se um cidadão resolve dar uma olhada no Instagram ou no Twitter, é um problema só dele. Segundo, porque quem critica desconhece os possíveis contextos da situação.
Um deles: foi a tecnologia que tornou possível a escapada ao bar no happy hour. Há 20 anos, aqueles dois poderiam ter sido obrigados a ficar no escritório, em algum porão escuro ou numa sala sem vista pra rua.
Graças à revolucionária possibilidade de conexão online com clientes, colegas e chefes, puderam sair mais cedo. E ali estão. Ganhando tempo de convivência.
Outra situação julgada de forma preconceituosa. Marido e mulher no restaurante. Cada um grudado na tela do seu telefone. Sem conversar. "Olha lá, que absurdo!", alguém, cheio de arrogância, logo se apressa em julgar.
Imaginemos que o casal esteja mesmo brigado, acabou de discutir por qualquer desses motivos que a gente conhece bem. A possibilidade de mergulhar no tablet ou no celular é um santo remédio. Ver um vídeo, conversar com uma amiga, pedir ajuda ao terapeuta.
Sem o mobile, talvez a situação descambasse para gritaria e pratos quebrados. Em vez disso, a tecnologia nos dá a chance de baixar a cabeça e de esfriá-la, discretamente e de forma civilizada.
Portanto, quando você avistar seres humanos - sozinhos, em casais ou famílias numerosas - cada um prestando atenção na sua tela, pense que essa pode ser a solução, não o problema. Deixe-os em paz. Pegue o seu telefone, poste uma foto do sushi ou mande um whats pra um amigo que você não vê há muito tempo.
De repente, vocês marcam um encontro pra mais tarde.