Não é todo dia que políticos admitem responsabilidade pessoal por catástrofes. Por isso, é digna de nota a atitude do ex-premier britânico Tony Blair de pedir desculpas pela falsidade das informações de inteligência que levaram à invasão do Iraque e por "erros na planificação e na compreensão do que se passou depois de o regime ter caído".
Em 2013, quando a invasão completou 10 anos, Blair pensava de maneira diametralmente oposta. Entrevistei-o em dezembro daquele ano, em Porto Alegre, e perguntei-lhe se mantinha a posição de que a invasão fora correta. Em sua resposta, o ex-premier apresentou o seguinte argumento:
- Suponha que não tivéssemos feito o que fizemos. Acho que é, pelo menos, discutível, se não provável, que o que está acontecendo na Síria hoje estaria acontecendo no Iraque. Se a Primavera Árabe atingiu Tunísia, Líbia, Egito, Iêmen, Síria, também não atingiria o Iraque?
Seis meses depois da entrevista de Blair a Zero Hora, o Estado Islâmico (EI), nova denominação da Al-Qaeda no Iraque, tomava Mossul e chegava a algumas dezenas de quilômetros de Bagdá. Hoje, Blair reconhece que há "elementos de verdade" na afirmação de que a invasão de 2003 levou ao surgimento do EI.
Ainda mais formidável do que o pedido parcial de desculpas de Blair foi o mea culpa de seu entrevistador, o âncora da CNN Fareed Zakaria. Diante da câmera, Zakaria disse aos telespectadores que se arrepende de seu próprio apoio inicial à guerra. Segundo o apresentador, sua mudança de opinião ocorreu ao ver a matança que se seguiu à invasão e a ascensão do EI.