Cercada de aliados que agem como inimigos, a presidente Dilma Rousseff está perdida em um labirinto que transformou em clichê a comparação de sua situação com a lenda do Minotauro. À diferença de Teseu, que enfrentou o monstro e voltou guiado pelo fio de Ariadne, a presidente se parece mais com a figura que deixou migalhas de pão pelo caminho, mas o alimento foi devorado pelas saúvas (do Congresso) e a cada dia se aprofunda o sentimento de desorientação.
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O monstro que habita o centro do labirinto é disforme e encarna todos os inimigos da presidente, incluindo ex-assessores ressentidos, companheiros inconformados com a política de rigor fiscal, traidores contumazes, oportunistas de plantão e opositores dispostos a empurrar o país para o abismo se isso puder apressar a saída dela o poder.
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A forma errática como Dilma trata a reforma ministerial e a falta de apoio ao ajuste fiscal por parte dos próprios companheiros de partido são combustíveis que alimentam a crise surgida junto com a vitória apertada na eleição. Ela, que sempre rejeitou a ideia de reduzir os 39 ministérios, finalmente se convenceu de que precisaria enxugar a máquina e tornou pública a mudança de opinião. O PMDB, que estimulou o corte, briga para ampliar sua fatia de poder, e o vice-presidente Michel Temer vem agora dizer que o momento é inoportuno para a reforma.
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Para tentar salvar o mandato, Dilma cede, sinaliza que aceita entregar a cabeça do ministro da Saúde, Arthur Chioro, ao PMDB. O partido de Temer vai para a TV e faz um programa obtuso. Líderes de diferentes Estados desfilam na tela falando como se não fossem governo - e como se tivessem nas mãos a fórmula para salvar o país.
"Dilma ganhou perdendo, quem assume agora é o PMDB", diz Marina
Na sexta-feira, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, a ex-senadora Marina Silva (Rede) ressuscitou a frase que pronunciou ao ser derrotada na eleição de 2014:
- Às vezes, é melhor perder ganhando do que ganhar perdendo. A presidente Dilma ganhou perdendo.
Marina, cuja imagem foi desconstruída na campanha de Dilma, agora dá o troco com um diagnóstico ácido, pronunciado em tom suave, e diz que o maior erro da presidente foi "apostar todas as fichas no PMDB, que hoje representa o pior tipo de oposição, pois é feita dentro do próprio governo":
- A presidente já foi saída do governo pela base de sustentação. Não aprovam suas propostas, inclusive em seu próprio partido.
Quando voltar de Nova York, a presidente terá de encarar o monstro. Enquanto esteve ausente, o dólar recuou para a faixa de R$ 3,97, mas a temperatura da crise segue em ponto de ebulição.
Crise política
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Leia a abertura da coluna Política+ publicada neste sábado em ZH
Rosane de Oliveira
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