Bastou uma frase do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para os especuladores contra o real se acalmarem. O dólar deixou a órbita dos R$ 4,25 e voltou ao nível da semana passada. Para acionar o botão verbal antipânico, Tombini recitou uma frase banal: "Reservas são um seguro que pode e deve ser usado". Qualquer brasileiro informado sabe disso. Mas no peculiar idioma usado entre o BC e o mercado, poderia ser traduzido como "não atirem que vamos responder ao fogo".
Foi como uma espécie de circuit breaker (mecanismo que interrompe negociações na bolsa quando a queda atinge 10%). Era o que havia sugerido, em artigo publicado nesta quinta-feira em vários jornais, o egípcio Mohamed El-Erian, ex-conselheiro econômico do presidente dos EUA, Barack Obama. A sugestão de El-Erian era mais ambiciosa, com medidas oficiais apoiadas pelo Congresso. Mas o "grito" de Tombini funcionou, ao menos por um dia.
Após declarações do presidente do BC, dólar cai e fecha em R$ 3,99
O BC paga um custo alto para manter US$ 370 bilhões em reservas internacionais. Foram R$ 48 bilhões no primeiro trimestre, quatro vezes mais do que em igual período de 2014. O custo elevado só tem sentido se as reservas tiverem uma finalidade.
A questão é se o verbalismo antipânico terá efeito duradouro. Se o Brasil de fato estiver, como observam economistas de diferentes escolas, sob ataque especulativo, não será suficiente.
O dólar sobe porque há incerteza política e econômica, reforçada pelo novo adiamento do anúncio da reforma ministerial, agora prometido para a próxima semana.
Ainda mais que, no mesmo dia, a presidente de outro banco central, o Federal Reserve dos EUA, Janet Yellen, fez um discurso muito claro: o juro deve mesmo começar a subir por lá ainda neste ano. E vai atrair mais dólares de volta para seu aconchego. Será um processo lento e gradual, mas agrava a fragilidade do Brasil se o controle do pânico não for mais efetivo.