Ao manter 26 dos 32 vetos da presidente Dilma a projetos que desagradam ao governo e ampliam os gastos públicos, o Congresso começa a desarmar as chamadas pautas-bomba, que fatalmente encaminhariam o país para uma crise ainda mais profunda do que a atual. Falta, ainda, votar o polêmico reajuste dos servidores do Judiciário e a extensão a todos os aposentados do índice de correção do salário mínimo. Ainda assim, ao evitar um aumento considerável de gastos, o Congresso enfraquece a defesa do Planalto para a necessidade de criação de mais impostos, incluindo a insistência na volta de um tributo inaceitável como a CPMF.
Infelizmente, mesmo o que poderia ser visto com um sinal de maturidade do Congresso e de rearticulação do Executivo acaba se prestando para escancarar a falta de coerência na política, que ajuda a explicar muito do impasse enfrentado hoje pelo país. De alguma forma, o fato de o Planalto ter conseguido evitar um impacto bilionário nos gastos só ocorreu depois do aceno de espaços generosos para políticos da base de apoio parlamentar na nova equipe ministerial. E, na oposição, parlamentares historicamente identificados com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) insistiram na defesa de medidas incompatíveis com um país em processo de ajuste nas contas.
Como advertiu ontem o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ampliação de despesas, na atual situação do país, significa mais impostos. Por mais que algumas das mudanças em debate sejam justas, quem acaba pagando a conta é o contribuinte. Por isso, é importante que, na votação das questões ainda pendentes, os parlamentares deixem de lado interesses menores e votem a favor da maioria dos brasileiros.