Por Rodrigo Lopes, jornalista e membro do Conselho Editorial da RBS
Em 2024, mais de 2 bilhões de eleitores irão às urnas em cerca de 50 países. Mas o voto não tem o mesmo valor em Moscou, Caracas, Porto Alegre ou Nova York. Neste domingo, por exemplo, Vladimir Putin, um autocrata de direita, deve estender sua permanência no Kremlin até 2030 em eleições de fachada. Em 28 de julho, será a vez de Nicolás Maduro, outro autocrata, só que de esquerda, retirar da cartola mais seis anos no poder.
Ainda que restrições à liberdade e violações de direitos políticos sejam temas que irmanam esses países, desinformação, ataques à imprensa profissional, instrumentalização de redes sociais e uso de inteligência artificial para manipular o eleitor não serão práticas restritas a nações onde a democracia se liquefaz. Mesmo processos eleitorais consolidados, como no Brasil e nos EUA, que realizam eleições em outubro e em novembro, respectivamente, não estão imunes a tentativas de desvios. Os eleitores serão bombardeados por fake news.
A imprensa profissional tem o dever de estar ao lado da população
É nesse momento que entra o jornalismo. A imprensa profissional tem o dever de estar ao lado da população. Eleições normalmente já impõem imensos desafios. Mas, em cenários de polarização e descrença nas instituições, a situação é ainda mais complexa. No caso do Brasil, o eleitor terá a oportunidade de debater os problemas do dia a dia das ruas, dos parques, do recolhimento do lixo, do saneamento básico, da educação infantil e da mobilidade, por exemplo. Por isso, urge um jornalismo propositivo, que não se limite a retratar as campanhas, mas que aponte soluções. Uma boa maneira de se fazer isso é lançar luzes sobre exemplos de outras cidades ou nações. Veículos de comunicação precisam ceder espaço às preocupações da população e confrontá-las com o que os candidatos têm a dizer. Eleições são ainda uma chance de os jornalistas utilizarem a tecnologia a serviço do (e)leitor: de apostar em iniciativas hiperlocais e de checagem de dados (fact-checking) diante de promessas disparadas ao vento, sem lastro na realidade.
Infelizmente, na Rússia de Putin e na Venezuela de Maduro, o jogo já está jogado. Mas, por aqui, o jornalismo precisa abrir sua caixa de ferramentas com brevidade a fim de ser ágora, a praça pública grega, palco de debates fundamentais da democracia, e, ao mesmo tempo, farol para uma sociedade mais desenvolvida.