Por Jorge Audy, superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS e do Tecnopuc e membro do Conselho Editorial da RBS
Algumas inovações na história da humanidade chamamos de disruptivas por estabelecerem mudanças radicais, causando profundo impacto. Foi assim na descoberta do fogo, na criação da imprensa, no surgimento dos computadores e da internet, e não é diferente com a emergência da inteligência artificial (IA).
Com ciclos cada vez menores e impactos cada vez maiores, essas inovações provocam transformações em todas as áreas da sociedade. É o que temos visto com a IA generativa. No campo do jornalismo e da comunicação, ela pode ser utilizada para melhorar a rotina das redações e a entrega à sociedade. Porém, há uma dimensão ética em discussão, que inclui efeitos nos empregos e na remuneração, o viés algorítmico e o aumento da desinformação.
Diante disso, veículos de comunicação, sobretudo de países europeus e dos EUA, têm criado políticas para pautar o uso de IA generativa em suas redações, bem como proibido ou limitado o acesso dessas ferramentas a seu acervo. O jornal The New York Times abriu um processo contra a Open IA (ChatGPT) e a Microsoft (Bing) por entender que elas agem indevidamente ao usar artigos e reportagens para treinar e alimentar suas ferramentas de inteligência artificial sem remunerar os detentores dos direitos autorais. Esse movimento também tem sido visto aqui no Brasil.
Essas questões sobre uso e direitos autorais da IA serão mais bem resolvidas por educação de qualidade do que por tribunais
Porém, em um país onde a educação está aquém do desejado, tanto em termos de inclusão quanto em termos de qualidade, a entrada da IA na rotina das pessoas não está acompanhada de uma formação adequada para o seu uso e para o discernimento de suas implicações. Isso afeta a sociedade em diversos níveis.
Nas eleições deste ano, por exemplo, devemos ter um impacto muito significativo do uso da IA generativa, para o bem e para o mal. Nesse sentido, o apoio de instituições e profissionais qualificados na área pode ser uma forma de mitigar os riscos do uso indevido dessas tecnologias, enquanto a sociedade não atinja o conhecimento necessário para lidar com essa realidade.
Para além disso, é urgente a consciência de que o grande desafio quando falamos sobre inovações disruptivas, como agora no caso da IA, é a educação. Não somente a educação para o trabalho, mas principalmente a educação para o pleno exercício da cidadania. Uma educação alicerçada em valores, com foco na formação de pessoas íntegras e preparadas para atuar em um mundo que se torna cada vez menor e mais complexo. Essas questões sobre uso e direitos autorais da IA serão mais bem resolvidas por educação de qualidade do que por tribunais.