Por Ricardo Gandour, jornalista e membro do Conselho Editorial da RBS
Desde 2016 o Brasil não tem mais um prêmio nacional e fortemente relevante no campo do jornalismo. Até então tínhamos o prêmio Esso, criado em 1956 e apoiado por uma companhia de petróleo – tecnicamente um branded content, como hoje chamamos os projetos apresentados por marcas. Graças a uma governança adequada e a comitês julgadores independentes e de alta credibilidade, o Esso se transformou na mais prestigiosa premiação jornalística do Brasil, chegando a ser comparado ao Pulitzer, láurea capitaneada pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, a mais importante premiação jornalística no mundo.
Anualmente o prêmio Esso contemplava várias categorias, como Reportagem, Fotografia, Criação Gráfica, Telejornalismo e Regionais – na última edição, em 2015, Zero Hora levou o prêmio pela reportagem “Cicatrizes”, da repórter Luísa Martins e do fotojornalista Júlio Cordeiro, sobre dez personagens cujos corpos carregavam cicatrizes da história de suas vidas. Naquele ano, o Grande Prêmio foi para Paulo Saldaña, Rodrigo Burgarelli e José Roberto de Toledo, pela reportagem “Farra do Fies”, que investigou os gastos do governo federal com o financiamento estudantil.
O Brasil precisa voltar a ter um prêmio relevante e de alta credibilidade no jornalismo
Havia também as categorias temáticas, como Informação Econômica e Informação Científica, Tecnológica e Ambiental. A categoria mais recente, criada em 2011, contemplava reportagens na área da educação. “Estima-se que mais de 33 mil trabalhos jornalísticos tenham sido avaliados pelas comissões de julgamento, premiando mais de mil trabalhos gráficos, reportagens e fotografias, laureando os melhores profissionais da imprensa brasileira”, disse a nota da empresa ao suspender a premiação e fazer um balanço da 60ª edição, que naquele ano totalizou R$ 123,2 mil em prêmios.
Mas o impacto de um prêmio vai muito além do mero incentivo monetário. Um prêmio relevante motiva, encoraja e sobretudo espalha admiração e inspiração por gerações de jornalistas, especialmente entre os mais jovens e iniciantes na carreira.
Já são quase 10 anos sem o Prêmio Esso, período em que jornalistas têm sido cada vez mais perseguidos e bombardeados pela radicalização política turbinada pelas redes (ou mídias?) “sociais”. O Brasil precisa voltar a ter um prêmio relevante e de alta credibilidade no jornalismo. Que as entidades do setor se unam, eventualmente envolvam faculdades e universidades, e busquem restaurar essa baliza motivadora para o exercício do jornalismo.