Por Claudio Toigo filho, CEO da RBS Mídias e membro do Conselho Editorial da RBS
Passada a posse, com o começo do ano e do novo governo, o Brasil entra em nova fase. No jornalismo independente, segue tudo igual: para quem tem compromisso com a busca da verdade e com a produção de conteúdo de qualidade, mudam os governos, não o papel de fiscalizar quem está no poder, denunciar malfeitos, cobrar promessas de campanha e exigir, em nome da sociedade, que autoridades cumpram bem sua função. Isso pode causar desconforto nos partidários da direita, se é a direita quem está no governo, ou nos da esquerda, se o governo é de esquerda.
Sabemos que o momento da alternância no poder faz subir o grau de desconforto. Digamos que você tenha votado no Bolsonaro. Lula, eleito, aparecerá mais no noticiário. Isso pode ser desconfortável para você, porque ele agora é presidente e não foi sua escolha. Agora, vamos que você tenha votado em Lula. Ao se iniciar o mandato, se acentua o papel da imprensa de fiscalizar seu governo. Ao ver na mídia qualquer crítica ou questionamento, o eleitor de Lula achará que a imprensa está jogando contra. Aliás, já começamos a receber críticas da esquerda em relação à cobertura do governo que se inicia. Isso é natural e acontece a todos os veículos de comunicação que praticam jornalismo profissional.
Aos veículos de comunicação cabe mostrar todos os matizes de visões, sempre buscando dar ainda mais espaço para todas as vozes e diversificando fontes
Nosso papel não é acusar por acusar, ou criticar por criticar. A tarefa está em, sem torcer para A ou B, fazer jornalismo responsável, plural e equilibrado, apurando e checando fatos, mostrando diferentes visões e fazendo o papel de watchdog, ou cão de guarda, como dizem os americanos.
Mesmo que não se concorde com a linha do governo – ou a linha política de um amigo, parente ou colega –, o pluralismo de ideias enriquece o ser humano (e o jornalismo), desde que haja respeito no diálogo. Aos veículos de comunicação cabe mostrar todos os matizes de visões, sempre buscando dar ainda mais espaço para todas as vozes e diversificando fontes. Aquilo que difere de nossas convicções pode ser desconfortável, mas, sendo ético e com propósito positivo, é saudável.
No Conselho Editorial, os temas acima perpassam quase todas as reuniões, com o objetivo de, em momentos como este, estarmos ainda mais atentos a nossa função, buscando qualificar nossas redações e tornar mais responsável nossa atividade. Se isso lhe causar algum desconforto, pode significar duas coisas: você está em saudável contato com ideias diferentes, e nós, em mais um governo, estamos fazendo jornalismo independente.