O julgamento de Dominique Pelicot na França, no qual ele é acusado de drogar a esposa, Gisèle, para estuprá-la junto com outros homens — que também estão sendo julgados —, foi interrompido nesta segunda-feira (16) para deliberação. O anúncio da sentença está previsto para quinta (19).
Em seu pronunciamento final antes do encerramento do julgamento, o homem de 72 anos elogiou a "coragem" da ex-mulher.
— Gostaria de começar por saudar a coragem da minha ex-mulher — disse ele.
No tribunal de Avignon, sul da França, onde ocorre o julgamento, ele também pediu que a família aceite suas desculpas pelo sofrimento causado desde a revelação dos crimes.
— Lamento o que fiz, fazer (minha família) sofrer por quatro anos, peço perdão.
Anúncio da sentença
Com as últimas palavras de Dominique, o julgamento foi interrompido para aguardar a sentença.
Os 51 acusados saberão se serão condenados na quinta-feira, às 8h30min do horário local (5h30min de Brasília), afirmou o presidente do tribunal, Roger Arata, ao anunciar o início das deliberações dos magistrados.
Gisèle Pelicot, que se tornou um símbolo mundial da luta contra a agressão sexual, saiu do tribunal sob aplausos e gritos de "bravo" e "obrigado" do público.
Desde o início, em 2 de setembro, o julgamento ganhou manchetes mundiais, em especial por conta da recusa de Gisèle em fazer um processo a portas fechadas. Ela apoiou a divulgação das imagens de estupro, marcadas pela frase: "Que a vergonha mude de lado".
Seu agora ex-marido pode pegar pena de 20 anos, pena máxima por estupro na França. Ele nunca negou as acusações e insiste que contou "toda a verdade". Dominique é um dos 16 réus que se declara culpado no caso. Os outros 35 negam ter cometido estupro.
"Covardia"
Dominique também agradeceu ao tribunal por permitir que ele utilizasse uma cadeira especial durante o julgamento devido ao seu estado de saúde frágil, o que deixou o processo em um cenário de incerteza por alguns momentos, e a sua advogada por ajudá-lo a "não baixar os braços".
— Teria sido uma demonstração de covardia para com a minha família e uma maneira fácil para os acusados provarem que tinham razão. Então, eu permaneci firme — acrescentou Dominique Pelicot, que durante o julgamento contrariou os réus que alegaram que não sabiam que Gisèle estava drogada.
O acusado disse que "a privação de não ver (sua) família é pior do que a privação da liberdade".
— Posso dizer a toda a minha família que os amo. Isso é tudo. Eles têm o resto da minha vida em suas mãos —concluiu, dirigindo-se aos cinco juízes profissionais do tribunal.
Apesar da previsão de veredicto para a manhã de quinta-feira, Arata explicou que a data pode ser adiada para quinta-feira à tarde ou para a manhã de sexta-feira, dependendo da "duração de nossas deliberações".
A maioria dos outros 50 réus também é acusada de estupro com agravantes. O Ministério Público pediu entre 10 e 18 anos de prisão para 49 deles.
Entenda o caso
Gisèle descobriu que havia sido estuprada em 19 de setembro de 2020, quando a polícia indiciou seu então marido por filmar sob as saias de três outras mulheres. Ao ser intimada a depor, a vítima foi confrontada por vídeos do computador de Dominique que registravam os estupros. Eles foram casados por 50 anos e tiveram três filhos e sete netos.
— Em 50 anos não tivemos uma vida linear, mas sempre nos mantivemos unidos. Problemas financeiros, problemas de relacionamento, problemas de saúde... Sempre apoiei meu marido. Tenho um sentimento de nojo, tínhamos tudo para sermos felizes, tudo. Não entendo como ele conseguiu chegar a isso — comentou ela no tribunal.
A francesa abriu mão do anonimato na tentativa de impedir que crimes como esse aconteçam novamente.