O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, recuou da tentativa de impor uma lei marcial no país.
A proposta enfrentou rejeição da classe política e de milhares de manifestantes que tomaram as ruas. Segundo a constituição sul-coreana, a medida deve ser suspensa se a maioria do parlamento solicitar, o que aconteceu nesta quarta-feira (4).
A inesperada iniciativa de decretar lei marcial no país pela primeira vez em mais de quatro décadas mergulhou a Coreia do Sul em uma grave crise e pegou de surpresa até mesmo os aliados mais próximos do presidente.
Essa situação também coloca em xeque o futuro de Yoon Suk-yeol, com pedidos de renúncia vindos da oposição e de sindicatos, além de críticas dentro de seu próprio partido, que exigem que ele assuma a responsabilidade.
O principal partido de oposição, cujos deputados precisaram enfrentar forças de segurança para votar contra a lei, exigiu a renúncia imediata de Yoon, acusando-o de "insurreição"
A maior organização sindical do país convocou uma "greve geral por tempo indeterminado" até que o presidente renuncie, classificando a medida como "irracional e antidemocrática".
Até mesmo Han Dong Hoon, líder do Partido do Poder Popular, o mesmo de Yoon, pediu ao presidente que explicasse "de forma direta e detalhada essa situação trágica" e afirmou que "todos os responsáveis devem prestar contas".
Embora tenha sido de curta duração, a imposição da lei marcial levou à proibição de atividades políticas e colocou os meios de comunicação sob controle governamental.
"Forças antiestatais"
O presidente recuou somente após a oposição do legislativo. — Há pouco, a Assembleia Nacional pediu o levantamento do estado de emergência e retiramos os militares mobilizados para as operações de lei marcial. Aceitaremos o pedido da Assembleia Nacional e suspenderemos a lei marcial em uma reunião de gabinete — declarou Yoon em um discurso televisionado às 04h30min (horário local, 16h30min de terça-feira em Brasília).
A reviravolta foi recebida com celebração pelos manifestantes que desafiavam as baixas temperaturas em frente ao parlamento.
Entre os argumentos apresentados para justificar a lei marcial estavam "salvaguardar a Coreia do Sul das ameaças apresentadas pelas forças comunistas da Coreia do Norte e eliminar os elementos antiestatais".
Yoon não deu detalhes sobre as ameaças vindas de Pyongyang, mas lembrou que o país continua tecnicamente em guerra com a Coreia do Norte, que possui um arsenal nuclear. Ele também descreveu o Partido Democrático, de oposição, como "forças antiestatais que tentam derrubar o regime".
— A nossa Assembleia Nacional se tornou um refúgio de criminosos, uma fortaleza para uma ditadura legislativa que busca paralisar o sistema judiciário e administrativo e derrubar a ordem democrática liberal — afirmou.