O presidente da Argentina, Javier Milei, declarou que a estatal Aerolíneas Argentinas está "sujeita à privatização" após semanas de conflitos sindicais que levaram a duas greves em setembro e afetaram dezenas de milhares de passageiros. Contudo, a decisão de privatizar cabe ao Congresso.
"É imperativo promover a privatização da empresa Aerolíneas Argentinas", diz o decreto publicado na noite de quarta-feira (2) pelo Poder Executivo.
No texto, o governo justifica a decisão indicando que o Estado teve que realizar aportes de US$ 8 bilhões (R$ 44 bilhões, na cotação atual) "em virtude do déficit crônico" da companhia, desde a sua estatização há 16 anos.
O decreto foi antecipado na última sexta-feira pelo porta-voz presidencial, Manuel Adorni, que questionou então:
— Por que os argentinos [...] devem cobrir com seus bolsos esta atrocidade?
O governo Milei almeja a privatização da companhia aérea nacional e tentou inclui-la em lei, mas esta foi rejeitada pelo Congresso no início do ano. Agora, para fazer com que o decreto seja cumprido, o presidente vai precisar da aprovação do Legislativo.
Isso acontece após semanas de conflito com os sindicatos aeronáuticos que exigem compensações salariais diante da perda de receitas em meio à inflação que, em agosto, chegou a 236% em 12 meses. A Aerolíneas ofereceu um aumento de quase 11%, que foi rejeitado pelos trabalhadores.
Em setembro, houve duas greves que afetaram centenas de voos e mais de 45 mil passageiros, com prejuízos somados de mais de US$ 3 milhões (R$ 16 milhões).
Em resposta, Milei declarou o transporte aeronáutico um "serviço essencial" para forçá-lo a manter pelo menos 50% dos serviços em caso de greve do setor, mas, na sexta-feira, a Justiça suspendeu essa medida ao considerar que ela limitava o direito de greve.
A Federação Internacional de Pilotos de Linhas Aéreas (IFALPA, na sigla em inglês) se solidarizou com os sindicatos aeronáuticos argentinos.
O governo também ameaçou entregar o controle operacional da companhia aérea a empresas privadas.