O governo boliviano rebateu, nesta segunda-feira (28), Evo Morales e o acusou de armar "um teatro" com o suposto atentado a tiros que ele diz ter sofrido. O ex-presidente afirma que policiais e militares dispararam 14 vezes contra o carro em que ele estava, no domingo, no departamento de Cochabamba.
O ministro de Governo (Interior), Eduardo del Castillo, declarou que o incidente aconteceu após Morales tentar evitar um controle antidrogas da polícia.
O ex-mandatário, que saiu ileso do suposto atentado, no qual seu motorista ficou ferido, insistiu em culpar agentes do governo do presidente Luis Arce, que foi seu ministro e com quem está em conflito pela candidatura do partido governista de esquerda para 2025.
— Senhor Morales, ninguém acredita no teatro que você armou, mas você terá que responder à Justiça boliviana pelo crime de tentativa de homicídio — disse Del Castillo, se referindo a um policial que teria sido atropelado.
Segundo o ministro, a polícia fez sinal para um dos veículos da caravana de Morales reduzir a velocidade, mas o motorista ignorou a ordem. Ele também relatou que foram feitos disparos de um dos carros contra os policiais e que um agente foi atropelado.
Arce ordenou uma "investigação imediata e minuciosa" após o incidente.
Morales diz que governo quer matá-lo
O incidente agravou ainda mais a tensão na Bolívia. Desde 14 de outubro, centenas de apoiadores de Morales bloqueiam as estradas de Cochabamba para exigir o fim da "perseguição judicial" contra seu líder.
Morales, o primeiro indígena a alcançar a presidência da Bolívia (2006-2019), é investigado pelo Ministério Público por suposto abuso de uma menor em 2015, quando era presidente.
Morales rejeita a acusação como "mais uma mentira" e afirma que a Justiça investigou e arquivou o caso em 2020, sem encontrar nada contra ele.
Em meio ao cruzamento de versões com o governo, o ex-presidente insistiu nesta segunda-feira que o governo de Arce quis eliminá-lo.
"O atentado foi perpetrado por um grupo de elite militar e policial", escreveu na rede social X, ao mesmo tempo que exigiu a demissão de Del Castillo e do ministro da Defesa, Edmundo Novillo.
Morales também classificou como "falsa e mentirosa" a versão do ministro de Governo sobre o controle antidrogas ter desencadeado o episódio dos disparos.
Promotora vai falar na quarta-feira
Enquanto isso, a promotora Sandra Gutiérrez, que conduz o caso contra Morales, antecipou que na quarta-feira (30) se pronunciará sobre a investigação por supostos crimes de estupro, tráfico e exploração de pessoas.
— Vamos dar um relatório sobre todos os avanços dentro deste caso — disse à imprensa.
Seus apoiadores, por sua vez, continuam protestando nas estradas de Cochabamba, desta vez para pedir a renúncia de Arce, a quem culpam pela crise econômica resultante da escassez de dólares e combustível.
De acordo com a Administradora Boliviana de Estradas (ABC), o país registrava, nesta segunda-feira (28), 22 pontos de bloqueio nas principais estradas que ligam Cochabamba a La Paz, Oruro e Santa Cruz.
As perdas chegam a US$ 1,2 bilhão de dólares (R$ 6,8 bilhões), de acordo com o ministério de Desenvolvimento Produtivo e Economia Plural.
— A renúncia do (presidente) Luis Arce pedimos. Ele tem que convocar eleições. Já basta! — afirmou à AFP José Loayza, um produtor de trigo de 40 anos, em um dos pontos de bloqueio.