O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori, que havia sido libertado da prisão em dezembro quando cumpria uma condenação por crimes contra a humanidade, morreu na quarta-feira (11), aos 86 anos, em sua residência, onde se recuperava de um tratamento de câncer.
"Após uma longa batalha contra a doença, nosso pai, Alberto Fujimori, acaba de partir ao encontro do Senhor. Pedimos àqueles que o apreciavam que nos acompanhem com uma oração pelo eterno descanso de sua alma. Obrigado por tudo, papai!", publicaram na rede social X Keiko, Hiro, Sachie e Kenji, filhos do ex-presidente.
De origem japonesa, mas popularmente conhecido como 'o chinês', Fujimori recebeu homenagens de simpatizantes do lado de fora da casa da família, no bairro de San Borja, em Lima.
Keiko Fujimori anunciou na rede social X que velório do pai acontecerá a partir desta quinta-feira (12) no Museu da Nação. O funeral foi programado para sábado.
"Esperamos todos que queiram se despedir dele pessoalmente", escreveu.
O governo decretou luto nacional nos dias 12, 13 e 14 de setembro e anunciou que Fujimori receberá "as honras fúnebres que correspondem a um presidente em exercício".
Fujimori governou o país com mão de ferro entre 1990 e 2000, na época das sangrentas guerrilhas maoistas, havia recuperado sua liberdade em dezembro após passar 16 anos em uma prisão para ex-presidentes no leste de Lima.
O conflito interno ou "guerra contra o terrorismo" - como foi denominada oficialmente - deixou mais de 69 mil mortos e 21 mil desaparecidos no período entre 1980 e 2000, a maioria civis, segundo uma comissão da verdade.
O ex-presidente cumpria uma sentença de 25 anos por sequestro, desaparecimento forçado e homicídio, entre outras violações de direitos humanos perpetradas por agentes do Estado. A justiça ordenou sua libertação por razões humanitárias.
"Ele tinha que pagar por sua culpa, mas agora que morreu o que se pode fazer... Não cumpriu sua pena", lamentou Juana Carrión, presidente da Associação Nacional de Familiares Sequestrados, Detidos e Desaparecidos do Peru.
- "Autoritário e populista" -
A Presidência peruana indicou na rede social X que "lamenta o sensível falecimento do ex-presidente do Peru, Alberto Fujimori" e enviou condolências à família.
O chefe de gabinete ministerial, Gustavo Adrianzén, indicou que coordenará com a família Fujimori os detalhes do funeral.
Promotor do crescimento econômico, Fujimori, de origem japonesa, foi um "precursor na América Latina de um estilo de fazer política", disse à AFP o analista político Augusto Álvarez.
Em sua opinião, o ex-presidente, que surgiu na cena pública como um outsider ao vencer nas urnas o escritor Mario Vargas Llosa, impulsionou um modelo "autoritário e populista" que se replicou em muitos outros países da região, em movimentos de esquerda ou direita.
- Linha dura -
A saúde de Fujimori se deteriorou rapidamente na última semana, após concluir em agosto um tratamento de radioterapia na boca, indicaram à AFP fontes próximas à família nas últimas horas.
O ex-presidente foi visto publicamente pela última vez na quinta-feira passada, quando saía de uma clínica no distrito de Miraflores, onde fez uma tomografia, segundo ele mesmo revelou.
Em 14 de julho, sua filha Keiko, ex-candidata à presidência, anunciou que o líder de direita se candidataria nas eleições presidenciais de 2026.
Em maio, Fujimori comunicou que foi detectado um tumor maligno na língua, após sofrer por mais de 27 anos uma lesão cancerígena no mesmo órgão.
A notícia sobre sua morte se espalhou como pólvora nas redes sociais, onde simpatizantes e detratores dissertam em elogios e críticas.
Fujimori conseguiu derrotar a guerrilha maoista do Sendero Luminoso, cujos principais líderes foram presos.
Ele foi condenado a 25 anos de prisão por dois massacres de civis perpetrados por um esquadrão do Exército no contexto da luta contra esse grupo armado no início da década de 1990.
O perfil autoritário de Fujimori foi concretizado em 1992, quando dissolveu o Congresso e convocou uma Constituinte que permitiu sua reeleição em 1995 e 2000 após a aprovação de uma Constituição sob medida para seu governo.
Em abril de 1997, o resgate de reféns na embaixada do Japão, que terminou após 122 dias com a morte de 14 criminosos, um refém e dois soldados, o catapultou como um herói para muitos peruanos.
Em novembro de 2000, diante de crescentes acusações de corrupção e violações dos direitos humanos, ele fugiu para o Japão, onde permaneceu durante vários anos.
O chefe de gabinete do governo japonês, Yoshimasa Hayashi, afirmou nesta quinta-feira que o país "nunca esquecerá os esforços feitos pelo ex-presidente Fujimori" no resgate dos reféns. Mas também reconheceu que existem "avaliações diferentes" sobre seu mandato, incluindo "o fato de ter sido condenado por violações dos direitos humanos e ter sido preso".
* AFP