O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, assassinado nesta quarta-feira (31) em Teerã, aos 61 anos, passou a ser conhecido internacionalmente em 2006, quando se tornou primeiro-ministro da Autoridade Palestina após a surpreendente vitória do seu movimento nas eleições legislativas.
Há vários anos, o líder do movimento terrorista defendia conciliar a luta armada e o combate político, assim como manter boas relações com os líderes dos vários movimentos palestinos.
Considerado um pragmático dentro do Hamas e conhecido por sua calma, Haniyeh vivia em um exílio voluntário entre o Catar e a Turquia, mas viajou a Teerã para acompanhar a cerimônia de posse do novo presidente do Irã, Masud Pezeshkian.
Ele nasceu em 1963 no campo de refugiados de Al Shati em Gaza, em uma família que fugiu de Ashkelon (alguns quilômetros ao norte) durante a criação do Estado de Israel 15 anos antes.
Começou o ativismo na ala estudantil da Irmandade Muçulmana na Universidade Islâmica de Gaza, origem do Hamas, e integrou o sindicato de estudantes entre 1983 e 1984.
Em 1987, ele participou na criação do movimento Hamas, fundado após a explosão da primeira Intifada, que prosseguiu até 1993. Durante este período, Haniyeh foi detido diversas vezes por Israel e expulso durante seis meses para o sul do Líbano.
Em 2003, Haniyeh e o fundador e líder espiritual do Hamas, Sheikh Ahmad Yassin, sobreviveram a uma tentativa de assassinato quando escaparam de uma casa bombardeada por aviões israelenses. Yassin foi assassinado um ano depois.
Breve governo de unidade
Embora só tenha assumido a liderança do Hamas em 2017, Haniyeh alcançou relevância internacional em 2006, quando se tornou o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, após a surpreendente vitória do Hamas nas eleições legislativas do mesmo ano.
Depois de assumir o comando de um governo de unidade, ele se comprometeu a trabalhar pela criação de um Estado Palestino "na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém como capital", posição então contrária ao discurso oficial do Hamas, que não não reconhecia estas fronteiras.
Mas a convivência entre Hamas e a organização secular Fatah do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, durou pouco tempo.
Em 2007, dois anos após a retirada unilateral das forças israelenses de Gaza, confrontos fratricidas foram registrados entre os dois movimentos no território palestino.
A quase guerra civil culminou com o Hamas no poder na Faixa de Gaza e provocou ressentimentos entre os dois grupos que persistem até hoje.
Após a breve experiência no governo, Haniyeh foi eleito chefe do gabinete político do Hamas em 2017, como sucessor de Khaled Mechaal, exilado no Catar.
Em imagens divulgadas pelo Hamas pouco depois do ataque violento contra o sul de Israel em 7 de outubro, Haniyeh falava em tom de celebração com outros líderes do Hamas em seu escritório de Doha enquanto um canal de televisão árabe exibia uma reportagem sobre milicianos do Hamas apreendendo veículos do Exército israelense.
Ao longo de nove meses de guerra, que destruiu amplas áreas de Gaza, Haniyeh insistiu em várias ocasiões que o grupo não libertará os reféns sequestrados em 7 de outubro caso os combates não sejam interrompidos de maneira definitiva.
O conflito também teve um custo pessoal para o líder do Hamas. Em junho, um bombardeio israelense atingiu uma casa de sua família e matou 10 pessoas, incluindo uma irmã de Haniyeh.
Em abril, três filhos e quatro netos de Haniyeh morreram em um ataque. Na ocasião, ele disse que 60 parentes haviam falecido desde o início da guerra em Gaza.