Pela primeira vez, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se manifestou diretamente sobre a eleição presidencial venezuelana, marcada para 28 de julho. Para o presidente brasileiro, é "grave" que a candidata de oposição Corina Yoris não tenha conseguido registrar sua candidatura. Ela não conseguiu concluir a sua inscrição a tempo e ficou impedida de participar da eleição.
— Eu fiquei surpreso com a decisão. Primeiro a decisão boa, da candidata que foi proibida de ser candidata pela Justiça [María Corina Machado], indicar uma sucessora [Corina Yoris]. Achei um passo importante. Agora, é grave que a candidata não possa ter sido registrada —afirmou.
Nicolás Maduro, atual presidente da Venezuela, é aliado histórico de Lula. Mesmo assim, o presidente tocou no assunto durante cerimônia com o presidente francês, Emmanuel Macron.
Na última terça-feira, o Itamaraty emitiu um comunicado criticando abertamente o impedimento da candidatura de Corina Yoris, principal representante da oposição. Yoris foi escolhida pelo bloco após a líder Maria Corina Machado ter sido inabilitada por Maduro, mesmo com o acordo assinado pelo presidente e pela oposição para garantir que o processo eleitoral seja livre e justo, de 2023.
Segundo o g1, Lula disse ter conversado com o aliado venezuelano sobre garantir o processo democrático do país. Para o petista, é "importante para a Venezuela voltar ao mundo com normalidade". Ele julga que o ocorrido pode ter prejudicado a candidata.
O que aconteceu com Corina Yoris
A candidata não conseguiu finalizar as inscrições no pleito dentro do prazo, no início da semana, e foi impedida de participar da corrida eleitoral. Até o momento, não houve explicação oficial para este impedimento.
Yoris foi escolhida após a candidata inicial, María Corina Machado, ter sido impedida pela Suprema Corte da Venezuela, alinhada ao regime de Maduro.
Agora, a oposição deve firmar apoio a Manuel Rosales, que conseguiu se inscrever de última hora. O governador do estado de Zulias foi rival de Hugo Chávez nas eleições nacionais de 2006.
Lula declarou:
— Ela não foi proibida pela Justiça. Me parece que ela se dirigiu até o lugar e tentou usar o computador, o local, e não conseguiu entrar. Então foi uma coisa que causou prejuízo a uma candidata.
— O dado concreto é que não tem explicação. Não tem explicação jurídica, política, você proibir um adversário de ser candidato — completou o presidente brasileiro. Emmanuel Macron concordou com Lula e disse querer conversar com Maduro.
Posicionamento do Brasil
Na nota do Itamaraty, o governo brasileiro disse: "Com base nas informações disponíveis, observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitaria, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados. O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial".
O comunicado do Planalto ressaltou, porém, que o governo é contra a retomada de sanções ao país vizinho, como sugerido pelos Estados Unidos no início do ano.
"O Brasil está pronto para, em conjunto com outros membros da comunidade internacional, cooperar para que o pleito anunciado para 28 de julho constitua um passo firme para que a vida política se normalize e a democracia se fortaleça na Venezuela, país vizinho e amigo do Brasil", diz o texto. "O Brasil reitera seu repúdio a quaisquer tipos de sanção que, além de ilegais, apenas contribuem para isolar a Venezuela e aumentar o sofrimento do seu povo", completou.
Resposta venezuelana
Na quarta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela criticou o comunicado brasileiro, julgando que a nota exibe “comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”. Para o governo de Maduro, o documento brasileiro “parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.