As aguardadas eleições presidenciais na Venezuela serão realizadas em 28 de julho, dia do aniversário de Hugo Chávez, tendo o presidente Nicolás Maduro como candidato à reeleição e a oposição nas cordas com sua principal pré-candidata inabilitada. A diretoria do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), de viés governista, anunciou nesta terça-feira (5) a data, que foi aprovada por unanimidade.
O cronograma "contempla todos os requisitos constitucionais, legais e técnicos", disse o presidente do CNE, Elvis Amoroso, ex-controlador responsável por inabilitações de opositores e sancionado pelos Estados Unidos em 2017 e pela União Europeia em 2020.
O anúncio da data coincide com o 11º aniversário de morte do presidente Hugo Chávez (1999-2013), cujo legado Maduro prometeu manter.
O presidente parece em campanha, com viagens pelo país e atos de governo e políticos que, até agora, eram exceção.
A oposição, ao contrário, está sob pressão. Não tem candidato na prática, depois de ter sido confirmada a inabilitação por 15 anos da ex-deputada María Corina Machado, vencedora das primárias, para ocupar cargos públicos.
O cronograma
O período para inscrever os candidatos será de 21 a 25 de março, e a campanha eleitoral está prevista de 4 a 25 de julho.
"Estão dando 20 dias para a oposição resolver" sobre um possível candidato alternativo a Machado, disse Luis Vicente León, diretor do instituto de pesquisas Datanálisis, em um momento em que a dirigente opositora permanece ativa em atos políticos, apesar de sua inabilitação, ratificada em janeiro pela Suprema Corte, não lhe permitir se inscrever.
Governo e oposição haviam acordado a realização de eleições no segundo semestre de 2024 em negociações intermediadas pela Noruega, em um pacto que contempla a observação da União Europeia e outros atores internacionais.
Em 2021, a UE enviou uma missão para as últimas eleições de prefeitos e governadores, nas quais identificou melhorias consideráveis no sistema de votação, mas também irregularidades como o uso de recursos públicos na campanha, a inabilitação "arbitrária" de candidatos e o estabelecimento de pontos de controle do partido do governo nos centros de votação.
Sua presença no país terminou de forma abrupta, depois que Maduro os tachou de "inimigos" e "espiões".
"Vamos, Nico!"
Maduro, que governa desde 2013, após ser ungido por Hugo Chávez antes de sua morte, disse, no início do ano, que era "prematuro" confirmar se buscaria um terceiro mandato, embora importantes dirigentes do chavismo deem como certa sua candidatura pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
Sua reeleição em 2018 foi tachada de "fraudulenta" pela oposição, que boicotou o processo, e os Estados Unidos, que impuseram uma série de sanções que asfixiaram a economia, mas fracassaram em seu objetivo de derrubá-lo do poder. A UE também não reconheceu o resultado.
Na segunda-feira, Maduro já havia sugerido que as eleições ocorreriam no fim de julho, lembrando as "mega eleições" de 30 de julho de 2000, nas quais Chávez foi reeleito pela primeira vez após a aprovação da nova Constituição.
"Vamos, Nico!", slogan de apoio ao mandatário, foi entoado em coro nesta terça na sessão plenária do Parlamento após o anúncio da data.
"E agora?"
A aspirante opositora ainda não reagiu ao anúncio do cronograma, mas León afirmou que "está claríssimo que María Corina não será candidata" e "não vai permitir uma substituição de sua candidatura por alguém que ela não nomeie diretamente".
Embora alguns nomes sejam aventados, Machado negou a possibilidade de se afastar, ao insistir que irá "até o final", apoiada pelos mais de 2 milhões de votos com os quais venceu com folga as primárias da coalizão opositora Plataforma Unitaria.
"Em 21 de março toda a Venezuela acompanha a inscrição da nossa candidata unitária", escreveu no X (antigo Twitter) o líder opositor Juan Guaidó, exilado nos Estados Unidos.
Mas Henrique Capriles, duas vezes candidato à Presidência e igualmente inabilitado, se pegunta: "E agora?".
"É preciso tomar decisões", publicou no X. "Sob nenhuma hipótese, abandonar a força do voto, (é preciso) pôr o país acima de qualquer interesse pessoal".
Outros dirigentes mais distantes da oposição tradicional - tachados de "colaboracionistas" por María Corina - anunciaram a intenção de concorrer às eleições, o que analistas consideram que busca dividir o voto antichavista.