Alexei Navalny, nascido em 1976 em Moscou, graduou-se em Direito. Ele começou sua trajetória política no partido liberal tradicional Jabloko, mas foi excluído. O líder do partido citou as posições nacionalistas de Navalny como razão para sua exclusão.
Posteriormente, ele se envolveu com a Marcha Russa, um movimento que atrai forças extremistas de direita, nacionalistas e xenófobas. Mais tarde, ele se distanciou em parte desse movimento.
Navalny se posicionava como um político liberal e como o principal opositor de Putin. Em sua plataforma eleitoral, ele prometeu uma "revolução contra a corrupção", o aumento do salário mínimo e investimentos na construção de estradas e hospitais.
Inicialmente, ganhou destaque como blogueiro e ativista anticorrupção, angariando uma grande quantidade de seguidores nas redes sociais, onde conquistou sua popularidade.
Sua característica marcante, uma mistura de deboche e ironia, parecia cativar o público. Durante os protestos contra a eleição parlamentar de 2011, Navalny rotulou o partido governista Rússia Unida como o "partido dos pilantras e ladrões", uma expressão que ressoou profundamente na sociedade.
O blogueiro emergiu como um dos principais líderes da oposição durante os protestos. Em relação à política externa, ele prometia pôr fim às guerras conduzidas pela Rússia no Exterior.
Navalny morreu na sexta-feira (16) na prisão do Ártico onde cumpria uma pena de 19 anos, conforme informou o serviço penitenciário.
Como o opositor morreu
O Serviço Penitenciário Federal disse, em comunicado, que o opositor de Putin se sentiu mal após uma caminhada e perdeu a consciência.
Os médicos de um hospital no norte da Rússia teriam passado mais de "meia hora" tentando reanimá-lo, informaram agências de notícias russas na sexta-feira.
Envenenamento em 2020
Em agosto de 2020, Alexei Navalny começou a sentir-se mal durante um voo para Moscou, resultando em um pouso de emergência em Omsk, onde foi hospitalizado na UTI. Ele foi transferido para Berlim para receber tratamento, após negociações com as autoridades russas.
O governo alemão afirmou que Navalny foi envenenado com uma substância sofisticada, aumentando as suspeitas de envolvimento do Estado russo. O Kremlin negou qualquer envolvimento nas acusações.
Navalny conduziu uma investigação pessoal, disfarçando-se de autoridade de segurança, e obteve informações de um especialista em armas que indicaram que a maior parte do agente químico teria sido plantada em suas roupas íntimas, uma afirmação negada pelo governo russo.
Por que Navalny estava preso?
Navalny estava detido havia aproximadamente três anos. Ele foi preso pelas forças russas em janeiro de 2021, logo após retornar da Alemanha, onde recebeu o tratamento por suspeita de envenenamento. O opositor já cumpria uma pena de 11 anos e meio em uma instalação de segurança máxima por fraude e outras acusações que eram negadas por ele.
Navalny foi novamente condenado em agosto passado, desta vez a 19 anos de prisão por "extremismo", pena que teve de cumprir em um dos estabelecimentos mais rígidos do sistema prisional russo e que o manteria preso até os 74 anos. Ele foi considerado culpado de criar uma comunidade extremista, financiar ativistas extremistas, entre outros crimes.
Durante o seu julgamento em agosto de 2023, Navalny foi contra "a guerra mais estúpida e sem sentido do século XXI", fazendo referência ao ataque russo à Ucrânia.
No final de 2023, foi transferido para uma remota colônia penitenciária no Ártico russo. Em dezembro, a equipe perdeu o contato com o opositor por quase 20 dias e precisou apresentar 680 pedidos para localizar Navalny.
Audiência um dia antes de morrer
Na quinta-feira (15), um dia antes de sua morte ser anunciada pelo serviço penitenciário russo, Alexei Navalny teria feito uma piada com um juiz de um tribunal no oeste da Rússia, comentando sobre como a sua situação financeira deveria estar precária.
O principal crítico do Kremlin participou da audiência do tribunal por meio de videoconferência e brincou dizendo que enviaria o número de sua conta bancária para que o juiz pudesse "aquecê-la" com seu salário, pois seu próprio dinheiro estava acabando, segundo o portal CNN Brasil.
Parentes são impedidos de ver o corpo
A mãe de Alexei Navalny, Liudmila Navalnaya, pediu nesta terça-feira (20) ao presidente russo, Vladimir Putin, que entregue "sem demora" o corpo de seu filho. Ela compareceu no sábado (17) com um advogado à colônia penal em uma região remota, mas não foi autorizada a entrar no necrotério onde supostamente está o corpo do filho.
Viúva de Navalny
Yulia Navalnaya, viúva de Navalny, acusou o presidente russo, Vladimir Putin, de matar o marido e prometeu que continuará lutando pela "liberdade" do país. Após o anúncio da morte do opositor, Yulia tem se tornado um constante alvo de rumores e notícias falsas.
Apenas algumas horas após o anúncio da morte do russo, uma foto dela ao lado de outro homem em uma praia foi divulgada nas redes sociais.
Os comentários afirmavam ou sugeriam que a foto era recente e acusavam a mulher de fingir tristeza em aparições públicas. A publicação também foi amplamente reproduzida em inglês, alemão e servo-croata em diversos canais.
Homenagens proibidas
No fim de semana, a justiça russa condenou pelo menos 150 pessoas à prisão por manifestações em homenagem a Navalny.
Segundo informações dos tribunais, no domingo (18), manifestantes violaram a legislação. Russos detidos depositaram flores ou acenderam velas nos locais onde são lembradas as vítimas da repressão da era stalinista.
Em São Petersburgo, noroeste do país, os juízes condenaram no sábado e domingo 154 pessoas a penas de até 14 dias de prisão, indicam decisões publicadas pelo serviço de imprensa dos tribunais da cidade, a segunda maior da Rússia.
Grupos de defesa dos direitos humanos e meios de comunicação independentes registraram mais condenações semelhantes em outras cidades.