Após o anúncio da morte do principal opositor do Kremlin, Alexei Navalny, a viúva dele, Yulia Navalnaya, que promete continuar a luta do marido, é alvo de rumores e notícias falsas. Apenas algumas horas após o anúncio da morte do russo, na sexta-feira (16), uma foto de Yulia ao lado de outro homem em uma praia foi divulgada nas redes sociais.
Os comentários afirmavam ou sugeriam que a foto era recente e acusavam a mulher de fingir tristeza em aparições públicas. A publicação também foi amplamente reproduzida em inglês, alemão e servo-croata em diversos canais.
Porém, a foto não é recente. Após a investigação, a AFP descobriu que a imagem foi publicada pela primeira vez na conta no Instagram de Evgeny Chichvarkin, um bilionário russo de 49 anos, em agosto de 2021.
"Com a primeira-dama da bela Rússia do futuro @yulia_navalnaya. Liberdade @navalny!", escreveu, localizando a foto em Jurmala, na Letônia.
Chichvarkin, cofundador e antigo proprietário do principal distribuidor russo de celulares Euroset, fugiu para o Reino Unido em 2008. Acusado de sequestro e extorsão, foi alvo de uma ordem internacional de busca e um pedido de extradição até 2011, ano em que a Rússia retirou as acusações.
Atualmente é comerciante de vinhos e um fervoroso opositor ao presidente russo, Vladimir Putin. Era amigo de Navalny e, segundo a imprensa, ajudou a financiar o trabalho dele e parte de seus gastos médicos após seu envenenamento em 2020.
A publicação de sua foto com Yulia Navalnaya foi muito comentada na época. Em uma entrevista a uma rádio independente, o empresário declarou, com um toque de ironia:
— As pessoas têm inveja, também gostariam de passear à beira-mar com Yulia Navalnaya, uma mulher bonita e forte, potencialmente uma primeira-dama — disse.
Faturas falsas
Yulia Navalnaya é regularmente alvo de rumores que visam desacreditar a ela ou ao seu falecido marido. A mulher de 47 anos é também acusada nas redes sociais de ser uma "acompanhante política", recorrendo à fotografia em que é vista com Chichvarkin ou ao depoimento de uma mulher que afirma ser sua antiga assistente.
Esta afirmação foi divulgada principalmente por um site que integra uma rede "estruturada e coordenada" de 193 páginas que divulgam propaganda russa na Europa e nos Estados Unidos, segundo a Viginum, a organização francesa de luta contra interferências digitais estrangeiras.
Outras contas na internet divulgaram fotos de faturas do site de reservas de hotéis Booking para apoiar as acusações. Mas segundo Eliot Higgins, fundador do meio investigativo digital Bellingcat, o documento apresentado é falso.
Em vídeo publicado no dia 19 de fevereiro nas redes sociais, Navalnaya, com a voz às vezes interrompida pela emoção, falou sobre a vida e o sofrimento do marido, e garantiu que ocupará o seu lugar.
— Há três dias, Vladimir Putin matou o meu marido, Alexei Navalny. Putin matou o pai dos meus filhos. (...) Com ele, ele queria matar o nosso espírito, a nossa liberdade, o nosso futuro — disse ela.
— Vou continuar o trabalho de Alexei Navalny. Vou continuar por nosso país, com vocês. Peço a todos que estejam ao meu lado (...). Não é vergonha fazer pouco, é vergonha não fazer nada, é vergonha permitir ser intimidado — declarou.
Conta suspensa
A rede social X (antigo Twitter) chegou a suspender a conta de Yulia Navalnaya na manhã desta terça-feira, um dia depois de ela ser criada. Ao pesquisar a conta @yulia_navalnaya, a rede social mostrava a mensagem: "Conta suspensa". A conta voltou a ficar acessível ainda durante a manhã. A rede social, pertencente a Elon Musk, não se manifestou sobre a medida.