A Venezuela abriu um escritório do serviço de identificação e migração (Saime) perto do Essequibo, território em disputa com a vizinha Guiana, com a intenção de oferecer documentos de identidade aos moradores desta região, informaram as autoridades locais no domingo (10).
O escritório abriu no sábado (9) na cidade mineira de Tumeremo (estado de Bolívar, na fronteira com o Essequibo), que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, decretou como área político-administrativa "provisória" para tratar de temas relacionados com o território que reivindica.
Depois da realização do controverso referendo na Venezuela, no domingo passado (3), quando 95% dos eleitores apoiaram a inclusão do Essequibo como parte do território venezuelano, Maduro anunciou a criação de uma autoridade única para a Guiana Essequiba, como nomeou este território administrado pela Guiana.
Trata-se de um passo anterior à criação de um eventual estado, cuja capital provisória é Tumeremo.
O general Alexis Rodríguez Cabello, autoridade única designada para o Essequibo, acompanhou a abertura do escritório do Saime, que "beneficiará a população de Tumeremo e do Essequibo", segundo o comunicado do governo de Bolívar, divulgado neste domingo.
Não está claro como será o trâmite para que qualquer um dos 125 mil habitantes do Essequibo, que têm documentos guianenses, peçam a nacionalidade venezuelana, sobretudo porque Tumeremo fica a pelo menos 100 quilômetros de San Martín de Turumbán, cidade venezuelana mais próxima fronteiriça com o território disputado.
— Há pessoas que têm cédulas vencidas, perdidas, roubadas, extraviadas e deterioradas — disse à AFP María Graterol, uma administradora de 52 anos. — Graças a Deus, isto (o escritório) é um fato — acrescentou.
Em Tumeremo também vai funcionar uma "zona de defesa integral", uma divisão militar territorial, sobre a qual não foram divulgados maiores detalhes.
Venezuela x Guiana
A região disputada tem 160 mil km² de extensão, é rica em petróleo e minerais e é reivindicada pela Venezuela há mais de um século.
Caracas alega que o território lhe pertence, como em 1777, quando era colônia espanhola, e apela ao acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência guianense do Reino Unido, que estabelecia as bases para uma solução negociada e anulava um laudo de 1899.
Já a Guiana defende este laudo, que estabelece seus limites atuais e pede que a Corte Internacional de Justiça (CIJ), cuja jurisdição Caracas não reconhece, o ratifique.
A disputa se intensificou após as descobertas de grandes reservas de petróleo pela gigante de energia americana ExxonMobil, das quais a Guiana dispôs. E desde então, o tom escalou para um nível que a comunidade internacional pediu a distensão e que se evite um conflito armado.
Maduro, presidente da Venezuela, e Irfaan Ali, presidente da Guiana, têm prevista uma reunião em São Vicente e Granadinas na próxima semana para discutir o tema.
Para além da disputa territorial, moradores de Tumeremo acreditam que a autoridade única trará melhorias para a população que, assim como muitos na Venezuela, enfrenta grandes carências econômicas e serviços públicos precários.
— Benefícios (...) para o povo — disse o comerciante Robert Reyes, de 32 anos. — Que acabe a questão (dos cortes) de luz, de água, das ruas, que estão mais deterioradas. Que comecem a pôr a mão na massa — afirmou.