O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, chegou nesta sexta-feira (3) a Israel para falar sobre a proteção dos civis palestinos na Faixa de Gaza, onde as tropas israelenses afirmam que cercaram a principal cidade do enclave em guerra contra o grupo Hamas.
Em um momento de temor de propagação do conflito pela região, o secretário de Estado americano inicia sua segunda viagem ao Oriente Médio desde o início da guerra desencadeada pelo violento ataque do movimento islamista palestino em 7 de outubro.
De modo paralelo, o líder do Hezbollah libanês, Hassan Nasrallah, pretende fazer o primeiro discurso desde o início da guerra, no qual deve explicar se o seu grupo, aliado do Hamas e apoiado pelo Irã, entrará de fato no conflito.
— Vamos conversar sobre medidas concretas que podem e devem ser tomadas para minimizar os danos aos homens, mulheres e crianças de Gaza — declarou Blinken antes de deixar Washington.
O secretário de Estado se reunirá com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e participará em uma reunião do gabinete de segurança.
Desde o ataque do Hamas, que deixou mais de 1,4 mil mortos em Israel até o momento, segundo as autoridades locais, os 2,4 milhões de habitantes de Gaza vivem cercados e enfrentam os bombardeios constantes, que provocaram mais de 9 mil mortes do lado palestino, afirma o Ministério da Saúde da região.
Hamas ameaça
— Estamos no auge da campanha (militar), nossos êxitos são impressionantes — celebrou Netanyahu na quinta-feira (2) durante uma visita a uma base militar perto de Tel Aviv.
Ele reconheceu que a operação é "difícil" e inclui "perdas dolorosas". Até o momento, o Exército relatou que 332 soldados morreram, 20 desde o início da operação terrestre.
O porta-voz do braço armado do movimento palestino, Abu Obeida, afirmou que "Gaza será uma maldição na história de Israel" e que muitos de seus soldados "voltarão em sacos pretos".
Na cidade de Gaza, alguns moradores procuraram refúgio perto do hospital Al Quds.
— Precisamos de um lugar seguro para nossos filhos — declarou à AFP Hiyam Shamlakh, de 50 anos.
— Todos estão aterrorizados. As crianças, as mulheres, os idosos — acrescentou.
Desde quarta-feira (1º), feridos e pessoas com passaporte estrangeiro foram autorizadas a sair do território cercado através da passagem de fronteira de Rafah e entrar no Egito — o único acesso à Gaza que não é controlado por Israel.
A ONU informou que quase 60 feridos e 400 estrangeiros ou pessoas com dupla cidadania saíram de Gaza na quinta-feira (2), número similar ao registrado no dia anterior.
Tensão no Líbano
A visita de Blinken, que depois viajará para a Jordânia, acontece em um momento de preocupação com uma possível expansão regional do conflito. A guerra aumentou a tensão na Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, onde cinco palestinos e um israelense morreram na quinta-feira.
Israel também anunciou um "vasto ataque" na quinta-feira (2) contra posições do Hezbollah no sul do Líbano, em resposta a disparos procedentes da região contra o norte de seu território. A ação matou quatro integrantes do grupo xiita. O discurso do líder do Hezbollah, que deve acontecer em uma cerimônia para homenagear os "mártires" do movimento, será acompanhado com atenção no Líbano e em toda a região.
A violência provocou 70 mortes no sul do Líbano desde 7 de outubro, segundo uma contagem da AFP, a maioria combatentes do Hezbollah.
Hospitais fechados
Além dos bombardeios contra Gaza, Israel impôs um cerco praticamente total ao território de 362 quilômetros quadrados e cortou o acesso ao abastecimento de água, alimentos, energia elétrica e combustíveis.
O cerco foi flexibilizado apenas nos últimos dias para permitir a entrada de alguns suprimentos em pouco mais de 370 caminhões de ajuda humanitária, segundo a ONU, que pede autorização para enviar mais assistência.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciou na quinta-feira que 14 dos 36 hospitais do território estão fora de operação devido à guerra e à falta de combustíveis para os geradores. A situação em Gaza é "indescritível", alertou o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU afirmou que os bombardeios israelenses contra o campo de refugiados de Jabaliya, o maior de Gaza com 116 mil residentes, poderiam constituir "crimes de guerra".