Yocheved Lifschitz, de 85 anos, uma das reféns libertadas pelo Hamas na segunda-feira (23), criticou os militares israelenses por não levarem a sério as ameaças do grupo terrorista e descreveu o que passou como "inferno". Ela permaneceu em cativeiro sob o poder do Hamas durante 16 dias e foi libertada junto de Nourit Kuper, de 79, ambas de nacionalidade israelense e originárias do kibutz Nir Oz.
— Não sei para onde me levaram — disse Yocheved. — Fui colocada de lado em uma moto, para que eu não caísse, um terrorista me segurando pela frente, e outro, por trás. Eles cruzaram a fronteira com a Faixa de Gaza e me mantiveram primeiro na cidade de Abesan. Depois disso, não sei para onde fui levada — conta.
Falando com repórteres no hospital Ichilov em Tel Aviv após sua libertação, Yocheved declarou que "passou pelo inferno" durante suas duas semanas como refém, de acordo a imprensa israelense. Ela conta que, no trajeto de moto até o cativeiro, os terroristas bateram nela com paus, o que gerou lesões. A idosa também relatou dificuldades para respirar.
— Eles nos levaram até a entrada dos túneis. Chegamos no túnel e caminhamos quilômetros em piso molhado e sujeira. Há um sistema gigante de túneis, como teias de aranha — disse Yocheved, de acordo com o jornal israelense Haaretz.
Segundo seu depoimento, os reféns foram bem tratados no cativeiro e os sequestradores foram amigáveis:
— Deitamos em colchões, eles garantiram que tudo estava higiênico. Garantiram que não ficaríamos doentes e tínhamos um médico conosco a cada dois ou três dias.
Os reféns foram alimentados com pão pitta com queijo branco, queijo processado e pepino - a mesma comida da qual os terroristas também se alimentaram.
"Fomos abandonados pelo governo"
Em sua conversa com a imprensa nesta terça-feira (24), Yocheved acusou as Forças de Defesa de Israel (FDI) de não levarem "a sério" as ameaças do Hamas. Ela também criticou a cerca fronteiriça colocada na divisa com Gaza, a qual custou muito dinheiro e foi rompida no ataque de 7 de outubro.
Em relação ao ataque surpresa sem precedentes feito pelo Hamas, ela disse que os moradores do kibutz onde morava foram prejudicados pela falta de conhecimento das FDI e do Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel.
— Éramos os bodes expiatórios do governo — conta. — Eles nos avisaram com três semanas de antecedência, queimaram campos, enviaram balões de fogo e as FDI não levaram isso a sério — acrescentou, referindo-se ao Hamas.
Marido de Yocheved é refém
Yocheved Lifschitz e Nurit Cooper foram libertadas três dias depois da soltura de outras duas reféns que estavam nos cativeiros do Hamas. Na sexta-feira (20), o grupo soltou as primeiras cativas após uma negociação com os Estados Unidos, mediada pelo Catar. Judith e Natalie Raanan moram em Evanston, no Estado americano de Illinois, e estavam em Israel para comemorar o aniversário de um familiar e celebrar um feriado religioso.
De acordo com o exército de Israel, ainda há 220 pessoas que foram sequestradas e estão sob poder do grupo terrorista. Um deles é o marido de Yocheved, Oded Lifschitz, de 83 anos. Com a esposa, ele foi sequestrado em sua casa no kibutz Nir Oz, perto da fronteira com Gaza, no sul de Israel.
Ela e o seu marido eram ativistas pela paz que transportavam regularmente pacientes palestinos de Gaza para receberem tratamento médico em hospitais israelenses. Mas, no cativeiro, os reféns disseram aos seus captores: "não queremos falar sobre política", segundo ela.
— Embora me faltem palavras para expressar meu alívio por saber que estão a salvo, continuo concentrada na libertação do meu pai e das 200 pessoas inocentes ainda retidas em Gaza — disse a filha de Yocheved, Sharone Lifschitz, de nacionalidade britânica.