O Egito aceitou receber os brasileiros que querem sair da Faixa de Gaza, confirmou na noite desta sexta-feira (13) o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Segundo ele, os cidadãos confinados na região devem sair neste sábado (14) pela passagem de Rafah, na fronteira entre a parte sul de Gaza e o Egito.
— (Os cidadãos brasileiros) sairiam neste ônibus, que os transportará amanhã (sábado). O que nós propusemos é que saíssem e fossem levados para um aeroporto, uma localidade muito próxima da fronteira, onde um avião da Força Aérea Brasileira, estará esperando — confirmou Vieira em entrevista coletiva após reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A aeronave enviada pelo governo federal para resgatar brasileiros na Faixa de Gaza pousou na manhã desta sexta-feira (13) em Roma, na Itália. O voo chegou na capital italiana por volta das 10h25min no horário local – 5h25min em Brasília. De acordo com a Presidência da República, a aeronave aguardava autorização dos egípcios para prosseguir com a operação e decolar em direção ao país africano. Eles apresentavam resistências, com receio de que o grupo se tornasse refugiado ao deixar Gaza.
O governo brasileiro contratou ônibus para transporte dos brasileiros até a fronteira egípcia e aguardava também a liberação da passagem deles pela fronteira da cidade de Rafah para o país africano.
Segundo o Itamaraty, 22 brasileiros deverão ser resgatados de Gaza.
Logo após o encontro, Vieira condenou a violência do conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas e fez um apelo para a criação de um corredor humanitário que permita a evacuação da população civil.
— Ao final, após pedido de membros do Conselho de Segurança, o Brasil vai continuar a trabalhar continuamente com todas as delegações visando uma posição unificada do conselho para a situação — afirmou.
Segundo ele, o Brasil, que preside temporariamente o Conselho de Segurança das Nações Unidas, vai se esforçar para evitar uma catástrofe humanitária.
— O objetivo imediato é claro e urgente: prevenir mais derramamento de sangue e perda de vidas e tentar garantir acesso humanitário urgente para as áreas mais atingidas — declarou.
O prazo dado pelo governo israelense para a retirada de 1 milhão de pessoas da parte norte da Faixa de Gaza terminou à meia-noite local (18h no horário de Brasília). As forças israelenses não deixaram claro quando começará a ofensiva armada na região, em retaliação aos ataques realizados pelo grupo terrorista Hamas.
Confira a íntegra da manifestação oficial de Mauro Vieira após a reunião na ONU
"Boa tarde.
O Brasil, na presidência do Conselho de Segurança, convocou a reunião de hoje.
Interrompi uma viagem oficial ao Sudeste Asiático para vir pessoalmente a Nova York, a fim de participar dessa reunião e ter outros encontros na ONU.
É a segunda vez que o Conselho se reúne na atual situação trágica em Israel e em Gaza.
Nos encontros fechados de hoje, os membros do Conselho foram informados pelo próprio Secretário-Geral António Guterres. No diálogo que se seguiu, os Estados-Membros tiveram a oportunidade de trocar pontos de vista.
Ao final, a pedido dos Membros do Conselho, o Brasil continuará a trabalhar em estreita colaboração com todas as delegações visando uma posição unificada do Conselho sobre a situação.
Falo agora na qualidade de Ministro das Relações Exteriores do Brasil.
O Brasil acredita que o Conselho deve agir diante de uma escalada de violência quase sem precedentes e de uma catástrofe humanitária em curso.
O Conselho tem uma responsabilidade crucial, tanto na resposta imediata à crise humanitária em evolução, como nas fases posteriores, quando serão necessários esforços multilaterais intensificados para restaurar um processo de paz. Nem os israelitas nem os palestinianos deveriam ter de suportar sofrimento semelhante nunca mais.
Vim à ONU em primeiro lugar para transmitir o apelo do Presidente Lula a uma ação humanitária multilateral urgente para acabar com o sofrimento dos civis apanhados no meio destas hostilidades. Destaco também o apelo do Presidente Lula pela libertação imediata e incondicional dos civis sequestrados e mantidos como reféns desde o início desta crise.
O Brasil continuará a promover o diálogo entre os membros e a ação por parte do Conselho através da abertura de possíveis vias de negociação. O objetivo imediato é claro e imediato: evitar mais derramamento de sangue e perda de vidas, e tentar garantir o acesso urgente e desimpedido da ajuda humanitária às zonas afetadas. O direito internacional humanitário e o direito internacional dos direitos humanos fornecem orientações claras sobre o que precisa ser feito. É urgente uma pausa humanitária, bem como a criação de corredores humanitários para acesso a Gaza.
Grande parte da reputação das Nações Unidas, e em particular do Conselho de Segurança, depende da abordagem da Organização à crise em curso. Os olhos do mundo também estão voltados para nós aqui em Nova York.
O Brasil tem acompanhado a situação em Israel e na Palestina com profunda tristeza e preocupação. Alarmados com o sofrimento humano generalizado, acreditamos firmemente que todos os esforços devem dar prioridade à proteção dos civis, especialmente das muitas crianças apanhadas na violência.
Recebemos com consternação a notícia de que as forças israelitas apelaram a todos os civis – mais de um milhão – que vivem no Norte de Gaza para saírem no prazo de 24 horas. Como afirmaram as Nações Unidas, isso pode levar a níveis de miséria sem precedentes para civis inocentes.
Também estamos acompanhando de perto a situação dos cidadãos brasileiros tanto em Israel quanto na Palestina. Já repatriamos centenas de brasileiros da região até agora. Lamentamos os três jovens que morreram no ataque ao festival de música que frequentavam enquanto estavam em Israel.
Expressamos a nossa mais profunda solidariedade a todas as famílias que perderam os seus entes queridos neste conflito, incluindo os trabalhadores humanitários e o pessoal da ONU. Expressamos também a nossa solidariedade aos feridos e deslocados. Esperamos que a paz prevaleça para todos no Médio Oriente e continuaremos a trabalhar para alcançar esse objetivo.
Por último, reiteramos o nosso forte apoio a uma solução duradoura de dois Estados, com Israel e a Palestina vivendo lado a lado em paz e prosperidade, dentro de fronteiras seguras, mutuamente acordadas e reconhecidas internacionalmente.
Obrigado."
O texto original, publicado em inglês, pode ser acessado aqui.