O presidente do Paraguai, Santiago Peña, qualificou, nesta quinta-feira (28), de "agressão pessoal" e "falta de respeito" um suposto memorando que vazou para a imprensa, atribuído ao governo dos Estados Unidos, sobre a corrupção em sua administração.
O documento, intitulado "Plano de Ação Integrado e Interinstitucional Anticorrupção para o Paraguai", publicado pelo jornal paraguaio ABC na quarta-feira, afirma que a corrupção é "um componente-chave" do recém-eleito governo de Peña e aponta o ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), sancionado por Washington, por supostamente "canalizar fundos públicos" para "controlar os níveis de poder do país".
"Pareceu-me uma agressão pessoal como presidente da República, eleito pelo voto popular", disse Peña, que assumiu o cargo em agosto, apoiado por Cartes, seu padrinho político.
"No caso de ser verdade (que os Estados Unidos redigiram o documento), é uma falta de respeito para um país que manifestou claramente estar alinhado aos grandes desafios globais, como a luta contra a corrupção, a igualdade, o desenvolvimento", acrescentou.
O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez, convocou na quarta-feira o embaixador dos Estados Unidos em Assunção, Marc Osfield, para discutir o memorando.
"É política dos Estados Unidos não comentar supostos documentos vazados", disse o diplomata após o encontro. "Continuaremos trabalhando em estreita colaboração com o governo paraguaio (...), um amigo, aliado e parceiro importante dos Estados Unidos".
Peña esclareceu que concorda com a maior parte do conteúdo do documento vazado. "Há 5% que se referem a mim, como presidente da República, e ao presidente do partido (Cartes), que não compartilhamos", afirmou.
O Partido Colorado governou o Paraguai na maior parte das últimas sete décadas, na ditadura e na democracia, com uma única interrupção durante o governo do esquerdista Fernando Lugo (2008-2012).
Cartes, um rico empresário do setor do tabaco, está proibido de entrar nos Estados Unidos, acusado de "corrupção sistêmica que minou as instituições democráticas no Paraguai". Em março de 2023, o ex-presidente foi forçado a se desfazer de propriedades e capitais relacionados a entidades financeiras americanas.
"Não sabemos realmente quais são as motivações, mas isso nos causou grande preocupação", concluiu o presidente Peña.
* AFP