Os líderes africanos pediram, nesta quarta-feira (6), investimentos e uma reforma do sistema financeiro internacional para impulsionar o crescimento verde no continente e combater o aquecimento global, no final de uma cúpula histórica em Nairóbi.
O encontro de três dias reuniu chefes de Estado e de Governo, além de empresários, na capital queniana com o objetivo de atrair financiamento para projetos ambientais que visam o desenvolvimento da região e o combate à mudança climática.
"A África tem tanto o potencial como a ambição de ser uma parte essencial da solução global para a mudança climática", afirmaram os participantes na sua declaração conjunta final, chamada "Declaração de Nairóbi".
Mas para desbloquear o seu potencial "em uma escala que contribua significativamente para a descarbonização da economia global, será necessário multiplicar os atuais fluxos de financiamento e investimentos para o desenvolvimento", afirmaram.
Para isso, apelaram em particular a "uma nova arquitetura de financiamento adaptada às necessidades da África, incluindo a reestruturação e o alívio da dívida", que pesa fortemente sobre as suas economias.
Um total de 23 bilhões de dólares (114 bilhões de reais na cotação atual) em investimento internacional também foi prometido durante a cúpula, disse o presidente queniano, William Ruto.
Essa declaração "servirá de base para a posição comum da África no processo global sobre a mudança climática até a COP28 e depois", observaram os líderes.
A cúpula de Nairóbi deu início a quatro meses de reuniões internacionais sobre questões climáticas, que continuam neste fim de semana com a cúpula do G20 na Índia e culminam com a conferência climática da ONU (COP28) em Dubai, no final de novembro, onde haverá uma batalha acirrada sobre os combustíveis fósseis.
Alcançar um consenso em um continente de 1,4 bilhão de pessoas e 54 países política e economicamente diversos não foi fácil. Alguns governos fizeram campanha por um futuro impulsionado pelas energias renováveis, enquanto outros dependem dos seus recursos de combustíveis fósseis.
Com uma população jovem e muitos recursos naturais, a África pode ajudar a construir uma alternativa aos combustíveis fósseis poluentes.
Além de um potencial natural para a geração direta de energia limpa (solar, eólica, geotérmica etc), o continente também abriga 40% das reservas mundiais de cobalto, manganês e platina, essenciais para baterias e células de combustível de hidrogênio.
Na sua declaração conjunta, os participantes afirmaram o desejo de aumentar, com a ajuda da comunidade internacional, a sua capacidade de produção de energia renovável, de 56 gigawatts em 2022 para pelo menos 300 gigawatts em 2030.
- "Igualdade de condições" -
Os desafios são imensos em um continente onde 500 milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade. Os países africanos também estão paralisados pelo crescente peso da dívida e pela falta de financiamento.
Vários líderes do continente, o chefe da ONU, António Guterres, e Sultan al Jaber, dos Emirados, pediram na terça-feira uma reforma do sistema financeiro internacional - um sistema "obsoleto, injusto e disfuncional", segundo o chefe da ONU - para adaptá-lo às exigências da luta contra o aquecimento global.
"Exigimos igualdade de condições para que os nossos países possam ter acesso aos investimentos necessários para desbloquear o seu potencial e traduzi-lo em oportunidades", afirmou William Ruto.
Os líderes africanos também lembraram aos países ricos o seu compromisso de fornecer 100 bilhões de dólares (496 bilhões de reais na cotação atual) por ano em financiamento climático aos países mais pobres.
* AFP