Militares do Gabão, na África, anunciaram nesta quarta-feira (30), em rede nacional, o "fim do atual regime". As fronteiras também foram fechadas, segundo o grupo. O golpe de Estado foi decretado após a divulgação dos resultados das eleições gerais do país. Os militares alegam que houve fraude nas eleições. Eles anularam as eleições de sábado e decretaram a dissolução de "todas as instituições" do país.
Até o momento não foi possível descobrir onde está Ali Bongo Ondimba, cuja família governa o país da África central rico em petróleo há mais de 55 anos. O bairro de sua residência em Libreville estava muito tranquilo durante a manhã, segundo testemunhas. Ali Bongo está no poder há 14 anos.
Depois que o Centro Gabonense de Eleições (CGE) anunciou oficialmente a vitória de Bongo com 64,27% dos votos, 12 militares divulgaram um comunicado no canal 'Gabon 24', cuja sede fica na própria presidência.
Eles afirmaram que uma "deterioração contínua da coesão social ameaça levar o país ao caos" e acrescentaram que decidiram "defender a paz impondo o fim do atual regime".
Fronteiras fechadas
"Todas as instituições da República foram dissolvidas: o governo, o Senado, a Assembleia Nacional e o Tribunal Constitucional", afirma o comunicado.
Os militares, que alegaram falar em nome de um "Comitê para a Transição e Restauração das Instituições", anunciaram ainda que as fronteiras do país permanecerão "fechadas até nova ordem".
Eles pediram à população que "mantenha a calma e a serenidade".
"Reafirmamos nosso compromisso de respeitar os compromissos do Gabão com a comunidade internacional".
Entre os militares que fizeram o anúncio estavam membros da Guarda Republicana (GR), a guarda pretoriana da presidência, cujos integrantes são reconhecidos por suas boinas verdes, além de soldados do exército oficial e membros da polícia.
Correspondentes da AFP ouviram tiros na capital Libreville durante a leitura do comunicado. No início da manhã, as ruas de Libreville estavam desertas.
Em sua mensagem, os militares denunciaram "um governo irresponsável e imprevisível".
A França, ex-potência colonial, afirmou que acompanha a situação no Gabão "com grande atenção".
A China anunciou que "acompanha de perto a evolução da situação" e pediu garantias à segurança de Bongo.
Sem observadores
A ação dos militares aconteceu poucas horas do anúncio da reeleição do presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, que segundo a autoridade eleitoral recebeu 64,27% dos votos no pleito de sábado.
Ali Bongo concorreu por um terceiro mandato, reduzido de sete para cinco anos, nas eleições de sábado, que incluíram votações para a presidência, legislativas e municipais.
Os resultados divulgados pelo CGE indicam que o principal rival de Bongo, Albert Ondo Ossa, mostram 30,77% dos votos. Ondo Ossa denunciou "fraudes orquestradas pelo grupo Bongo" duas horas antes do fim do horário de votação e reivindicou a vitória. A eleição aconteceu sem a presença de observadores internacionais.
O candidato opositor, 69 anos, foi o nome escolhido oito dias antes das eleições pela principal plataforma de partidos de oposição, 'Alternance 2023', após uma dura batalha entre seis aspirantes. Desta maneira, o professor de Economia da Universidade de Libreville e ex-ministro de Omar Bongo teve apenas seis dias para fazer campanha.
Os resultados oficiais da votação foram divulgados durante a madrugada pela televisão estatal, sem qualquer aviso prévio.
O anúncio aconteceu durante toque de recolher e com o serviço de internet cortado em todo o país, medidas impostas pelo governo antes do fim da votação de sábado para evitar, segundo as autoridades, a divulgação de "notícias falsas" e possíveis "atos de violência".
O acesso à internet foi restabelecido após o anúncio dos militares.
* AFP