Um avião transportando passageiros, principalmente franceses, chegou na madrugada desta quarta-feira (2) a Paris, na primeira retirada de estrangeiros do Níger desde o golpe de Estado que derrubou, na semana passada, o presidente Mohamed Bazoum.
O primeiro avião de repatriação pousou a 1h30min no aeroporto de Paris-Roissy Charles de Gaulle, disse uma fonte do aeroporto.
— Há 262 pessoas a bordo do Airbus A330, incluindo uma dúzia de bebês — havia informado a ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna.
Além dos franceses, estavam na aeronave cidadãos de Portugal, Níger, Bélgica, Etiópia e Líbano. Um segundo voo deve pousar ao longo da noite, transportando, também, alemães, americanos, austríacos e indianos.
A chancelaria da França prevê um total de três voos, e que a retirada não dure mais do que 24 horas, se possível.
A Itália informou que organizava "um voo especial", e que cerca de 90 italianos se encontravam em Niamey, de um total de quase 500 em todo o país, a maioria militares.
Horas após a decolagem do primeiro voo, os militares golpistas do Níger anunciaram na TV local a reabertura das fronteiras terrestres e aéreas com Argélia, Burkina Faso, Líbia, Mali e Chade.
Militares da França ficam
O presidente do Níger, Mohamed Bazoum foi derrubado no último dia 26 por sua própria guarda, no terceiro golpe de Estado na África Ocidental desde 2021, todos marcados por uma forte retórica nacionalista contra a França e por manifestações pró-Rússia.
O estado-maior do Exército francês informou que a retirada de seus militares não estava "na ordem do dia".
A França chegou a ter 5,4 mil soldados na região, como parte da missão antijihadista Barkhane, com o apoio de aviões de combate, helicópteros e drones. No ano passado, no entanto, teve que retirar suas tropas do Mali e de Burkina Faso, e conta agora com cerca de 1,5 mil homens, a maioria no Níger.
Cerca de mil militares norte-americanos também estão no Níger, para a luta antijihadista na região do Sahel.
A França decidiu facilitar a retirada de seus cidadãos após as manifestações hostis do último domingo em frente à sua embaixada, e as acusações do novo governo contra a ex-potência colonial.
— Não temos nenhum problema com os franceses nem com europeus — disse Hamidou Alin, nigerino de 58 anos, acrescentando que o problema é com "os governos europeus".
Reunião militar da Cedeao
A Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao) anunciou, na véspera, que os comandantes militares de seus países se reunirão de quarta a sexta-feira na Nigéria, para discutir o golpe no Níger.
A Cedeao, que impôs sanções no domingo contra o Níger, advertiu que poderia usar a força no país e deu um ultimato de uma semana aos golpistas para que Bazoum retorne ao poder.
No dia seguinte, a junta militar acusou a França de tentar "intervir militarmente", o que Paris nega, ao mesmo tempo que Mali e Burkina Faso, também governados por militares, alertaram que qualquer intervenção na nação africana seria uma "declaração de guerra" contra estas.
O Níger é um país semidesértico, um dos mais pobres e instáveis do mundo, apesar de suas grandes reservas significativas de urânio, que registrou quatro golpes de Estado desde a independência em 1960.
Bazoum chegou ao poder em 2021, depois de vencer as eleições que representaram a primeira transição pacífica de poder no país. O mandato, no entanto, já estava marcado por duas tentativas de golpe antes dos acontecimentos da semana passada, quando ele foi detido na residência oficial por membros da guarda presidencial de elite.
O comandante da guarda, general Abdurahaman Tiani, declarou-se novo líder do país, apesar das críticas da Cedeao, da União Africana e da Organização das Nações Unidas (ONU), bem como de França, Estados Unidos e União Europeia (UE).
O golpe acionou os alarmes nos países ocidentais que lutam para conter uma insurgência jihadista nesta região, que teve início no norte do Mali em 2012, avançou para o Níger e Burkina Faso três anos depois e agora ameaça as fronteiras de vários Estados frágeis no Golfo da Guiné.
A violência extremista deixou um número indeterminado de civis, soldados e policiais mortos em toda a região. Em Burkina Faso, 2,2 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas.