O exército de Níger, na África, anunciou, nessa quarta-feira (26), um golpe de Estado e que destituiu o presidente do país, Mohamed Bazoum. As forças militares criticaram o que qualificaram como a "contínua deterioração da situação de segurança e má gestão econômica e social". Além disso, o exército também ordenou o fechamento das fronteiras.
Em três comunicados lidos em rede nacional de televisão, os militares, organizados em uma plataforma chamada Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CLSP), reafirmaram seu "respeito por todos os compromissos assinados pelo Níger".
Os militares disseram nos comunicados que "todas as instituições da Sétima República estão suspensas" e que "as forças de defesa e segurança estão lidando com a situação".
— Pedimos a todos os parceiros externos que não interfiram, acrescentaram, antes de decretarem o fechamento das fronteiras terrestres e aéreas até que a situação se estabilize.
Nos comunicados, lidos pelo coronel Amadou Abramane em nome do "presidente do CLSP", foi decretado toque de recolher das 22h às 5h "em todo o território até segunda ordem".
Os líderes do golpe também prometeram às comunidades nacional e internacional respeitar a "integridade física e moral das autoridades derrubadas, de acordo com os princípios dos direitos humanos".
O paradeiro do presidente
Com essas palavras, o coronel Abramane pôs fim às dúvidas sobre o paradeiro do presidente Bazoum, após os acessos ao palácio presidencial serem fechados com ele dentro e depois de a conta da presidência do Níger no Twitter informar que membros da Guarda Presidencial realizavam uma ação golpista.
O chefe da diplomacia do Níger e chefe do governo interino, Hassoumi Massoudou, rejeitou o golpe de Estado e afirmou que seu governo representa as "autoridades legítimas e legais", em declarações ao canal de televisão France 24.
— O poder legal e legítimo é aquele exercido pelo presidente eleito do Níger, Mohamed Bazoum — que atualmente está sendo mantido como refém por líderes militares golpistas em sua residência oficial em Niamey, disse Massoudou.
O presidente Mohamed Bazoum "está em boas condições de saúde", acrescentou.
Os partidos da base do governo pediram aos golpistas que tomaram o palácio presidencial para que entreguem as armas, e ao povo nigerino para se mobilizar maciçamente para defender a democracia.
Os partidários de Bazoum fizeram uma manifestação em Niamey para tentar se aproximar de sua residência, onde ele estava detido, mas foram dispersados no final do dia por tiros de advertência da guarda presidencial, informou um jornalista da AFP.
Repercussão internacional
O secretário-geral da ONU, António Guterres, falou com o presidente deposto e transmitiu seu apoio diante da violação da legitimidade constitucional no Níger, que foi condenada por vários países e blocos regionais.
O Níger é um dos países mais pobres do mundo, sofre com a violência jihadista e com os efeitos das mudanças climáticas e da crise alimentar, que afetam milhões de pessoas.
O chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, pediu a "libertação imediata" de Bazoum e advertiu que a entrega da ajuda financeira dos EUA ao país africano dependia da "manutenção da democracia".
O Níger, afetado em diversas partes de seu território pela violência jihadista que se estende pelo Sahel, é dirigido pelo presidente Bazoum, eleito democraticamente, que está no poder desde abril de 2021.
A história do enorme país pobre e desértico foi manchada por golpes de Estado. A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, a Organização das Nações Unidas (ONU), a União Europeia, a França (que tem presença militar no Níger) e os Estados Unidos condenaram o movimento militar.