O general Abdourahamane Tchiani leu, nesta sexta-feira (28), um comunicado na televisão estatal do Níger apresentando-se como "presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria", a junta militar que derrubou o presidente Mohamed Bazoum. Tchiani, que é chefe da Guarda Presidencial, justificou o golpe pela "deterioração da situação de segurança" neste país africano devastado pela violência de grupos jihadistas.
Na quarta-feira (26), o exército do Níger anunciou um golpe de Estado destituindo o presidente do país, Mohamed Bazoum. Segundo os militares, a "contínua deterioração da situação de segurança e má gestão econômica e social" foram as razões para a ação.
Em três comunicados lidos em rede nacional de televisão, os militares, já organizados na plataforma chamada de Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CLSP), reafirmaram seu "respeito por todos os compromissos assinados pelo Níger".
Os militares disseram nos comunicados que "todas as instituições da Sétima República estão suspensas" e que "as forças de defesa e segurança estão lidando com a situação".
— Pedimos a todos os parceiros externos que não interfiram, acrescentaram, antes de decretarem o fechamento das fronteiras terrestres e aéreas até que a situação se estabilize — disse o coronel Amadou Abramane em nome do "presidente do CLSP", foi decretado toque de recolher das 22h às 5h "em todo o território até segunda ordem".
Os líderes do golpe também prometeram às comunidades nacional e internacional respeitar a "integridade física e moral das autoridades derrubadas, de acordo com os princípios dos direitos humanos".
Apoio do Exército
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Níger apoiou nessa quinta-feira (27) os líderes militares que mantêm detido o presidente Mohamed Bazoum, em Niamey, onde a junta acusou a França de ter violado sua decisão de fechar as fronteiras.
Os golpistas também anunciaram "a suspensão até nova ordem das atividades dos partidos políticos".
Os parceiros do Níger condenaram o golpe de Estado, mas a vizinha Burkina Faso, dirigida por um regime advindo de dois golpes de Estado em 2022, afirmou que deseja uma "cooperação mais estreita".
"O comando militar das forças armadas do Níger decidiu assinar a declaração das forças de defesa e segurança", indica um comunicado assinado pelo chefe do Estado-Maior, o general Abdou Sidikou Issa, com o objetivo de "evitar um confronto mortal entre as diferentes forças".
— O poder legal e legítimo é exercido pelo presidente eleito do Níger, Mohamed Bazoum — disse o ministro das Relações Exteriores e chefe do governo interino, Hassoumi Massoudou, acrescentando que ele "está bem de saúde".
Bandeiras russas
Os militares golpistas pediram para que "a população tenha calma" após uma manifestação de apoio aos golpistas em Niamey, na qual os participantes ergueram bandeiras russas e entoaram slogans contra a França.
Perto da Assembleia Nacional, onde uma multidão repleta de bandeiras russas gritava "Abaixo a França, viva a Rússia". Enquanto isso, um grupo de jovens marchou para a sede do Partido Nigerino para a Democracia e o Socialismo (PNDS, no poder), a poucos quilômetros da manifestação, onde colocaram fogo em carros.
Ainda nesta quinta, os militares acusaram a França, que tem 1,5 mil soldados baseados no Níger, de ter infringido o fechamento das fronteiras, ao aterrissar um avião militar no aeroporto internacional de Niamey.
Suspensão da ajuda humanitária
Os parceiros do Níger, que incluem Estados Unidos, França e Organização das Nações Unidas (ONU), condenaram o golpe de Estado e pediram a libertação "imediata" do presidente, eleito democraticamente e no poder desde 2021. A Rússia também pediu a "pronta libertação" de Bazoum.
Em um comunicado, a Comunidade Econômica de Estados do Oeste da África (CEDEAO) exigiu "a libertação imediata" de Mohamed Bazoum, "que segue sendo o presidente legítimo e legal do Níger reconhecido pela CEDEAO".
Por sua vez, a ONU "suspendeu" as operações humanitárias por causa do golpe no país, que vive uma situação humanitária "complexa", anunciou nesta quinta a organização. Segundo o Escritório de Assuntos Humanitários (OCHA), o número de pessoas com necessidade de assistência no Níger passou de 1,9 milhão em 2017 para 4,3 milhões em 2023.
O Níger é um dos últimos aliados do Ocidente em um Sahel devastado pela violência jihadista. Mali e Burkina Faso, liderados por militares golpistas, aproximaram-se de outros países, como a Rússia.
Desde que conquistou a independência da França em 1960, o país sofreu várias tentativas de golpe, quatro delas bem-sucedidas, a última em fevereiro de 2010, quando o presidente Mamadou Tandja foi derrubado.