O presidente russo, Vladimir Putin, iniciou nesta quinta-feira (27) a cúpula Rússia-África em São Petersburgo com a promessa de enviar grãos gratuitos para seis países do continente, em um contexto de temor pela disparada dos preços dos alimentos após a saída da Rússia do acordo de exportação de cereais ucranianos.
Isolado no cenário internacional desde o lançamento da ofensiva militar na Ucrânia, em fevereiro de 2022, Putin conta com seu parceiro chinês e com o apoio de inúmeros países africanos.
Em discurso de abertura na segunda cúpula Rússia-África na antiga capital imperial, o presidente russo prometeu o envio gratuito de até 50 mil toneladas de grãos para seis países africanos.
— Nos próximos meses poderemos garantir remessas gratuitas de 25 a 50 mil toneladas de grãos para Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia — declarou.
O discurso de Putin concentrou-se em uma questão candente na cúpula: o abandono de Moscou de um acordo crucial que permitia, desde o verão de 2022, que a Ucrânia exportasse seus grãos pelo mar Negro, inclusive para a África, apesar do bloqueio russo dos portos ucranianos.
Em um ano, esse acordo permitiu a saída de quase 33 milhões de toneladas de cereais dos portos ucranianos, o que contribuiu para estabilizar os preços mundiais dos alimentos e evitar o risco de escassez.
O governo russo indicou que "49 países africanos confirmaram sua participação" na cúpula, observando que haverá "uma declaração final" que estabelecerá as abordagens coordenadas para o desenvolvimento da cooperação russo-africana.
Líderes africanos
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, estimulou, nesta quinta-feira, os líderes africanos a exigirem respostas à crise dos grãos em que mergulham os países mais pobres.
— Eles sabem exatamente quem é o responsável pela situação atual. Espero que a Rússia ouça claramente esta mensagem de seus parceiros africanos — disse Blinken, em visita à Nova Zelândia.
Putin já se reuniu na quarta-feira (26) com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e depois com o presidente egípcio, Abdel Fatah al Sissi, elogiando seus projetos comuns no campo da energia.
Nos últimos anos, o líder russo tentou estreitar seus laços com a África por meio da presença do grupo paramilitar Wagner. Mas a rebelião fracassada do grupo na Rússia no final de junho levanta questões sobre o futuro de suas operações no continente.
O governo russo anunciou que a questão da Ucrânia também será discutida na cúpula de sexta-feira (28) em um "almoço de trabalho entre Vladimir Putin e um grupo de chefes de Estado africanos".
A cúpula de São Petersburgo acontece um mês antes da dos Brics na África do Sul, à qual o presidente russo, que recebeu um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional, se recusou a comparecer, pondo fim a meses de especulação.