As autoridades da Rússia disseram, nesta terça-feira (27), que encerraram uma investigação criminal sobre a rebelião armada liderada pelo chefe mercenário Yevgeny Prigozhin. O governo de Vladimir Putin voltou a falar que foram retiradas as acusações contra Yevgeny ou qualquer outro participante. Putin propôs aos combatentes mercenários a opção de se juntar ao exército russo ou partir em exílio para Belarus.
O Serviço Federal de Segurança, ou FSB, disse que sua investigação constatou que os envolvidos no motim "cessaram as atividades destinadas a cometer o crime".
No fim de semana, o Kremlin se comprometeu a não processar Prigozhin e seus combatentes depois que ele interrompeu a revolta no sábado (24), mesmo com o presidente Vladimir Putin tendo os rotulados como traidores.
A retirada das acusações responde aos questionamentos que ficaram após o motim sobre o que aconteceria com o grupo armado que marchou rumo a Moscou.
Em seu primeiro discurso televisionado após o levante, Putin procurou projetar estabilidade e controle, criticando os "organizadores" do motim, sem citar o nome de Prigozhin. Mas também elogiou os combatentes mercenários por terem evitado o "derramamento de sangue ao pararem na última linha".
A acusação de organizar um motim armado acarreta uma pena de até 20 anos de prisão no país. O fato de Prigozhin ter escapado da acusação representa um forte contraste da forma como o Kremlin vem tratando aqueles que organizam protestos contra o governo.
Muitas figuras da oposição na Rússia receberam longas penas de prisão e estão cumprindo pena em colônias penais famosas pelas condições severas.
Ainda durante o levante, o Kremlin e Prigozhin fecharam um acordo, mediado pelo presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, em que o motim seria parado com a condição de anistia. Logo em seguida, o Kremlin disse que Prigozhin seria exilado na vizinha Belarus, mas nem o mercenário, nem as autoridades bielorrussas confirmaram isso.
O paradeiro de Prigozhin permanece um mistério nesta terça-feira. Um projeto independente de monitoramento militar bielorrusso, o Belaruski Hajun, disse que um jato executivo com Prigozhin supostamente aterrissou perto de Minsk na manhã desta terça.
A equipe de mídia de Prigozhin, o chefe de 62 anos do grupo Wagner, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
A insurreição de curta duração de Prigozhin no fim de semana - o maior desafio ao governo de Putin em mais de duas décadas no poder - abalou a liderança da Rússia.
O Instituto para o Estudo da Guerra também observou que a ruptura entre Putin e Prigozhin é provavelmente irreparável e que fornecer ao chefe do Wagner e seus partidários Belarus como um aparente refúgio seguro pode ser uma armadilha.
Em outra demonstração de estabilidade e controle, o Kremlin, na noite de segunda-feira, mostrou Putin reunido com as principais autoridades de segurança, policiais e militares, incluindo o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, que Prigozhin tentou destituir.
Putin agradeceu à sua equipe pelo trabalho realizado no fim de semana, dando a entender que apoiava Shoigu, que estava em apuros. Anteriormente, as autoridades divulgaram um vídeo de Shoigu passando em revista às tropas na Ucrânia.
Também não ficou claro se ele conseguiria manter sua força mercenária. Em seu discurso, Putin ofereceu aos combatentes de Prigozhin que ficassem sob o comando do Ministério da Defesa da Rússia, deixassem o serviço ou fossem para Belarus.
Prigozhin disse na segunda-feira, sem entrar em detalhes, que a liderança bielorrussa propôs soluções que permitiriam a Wagner operar "em uma jurisdição legal", mas não ficou claro o que isso significava.
O presidente Alexander Lukashenko, um aliado próximo de Putin, também deu um discurso na segunda-feira, mas não abordou imediatamente o destino de Prigozhin. Lukashenko, que governa Belarus com mão de ferro por 29 anos, sufocando incansavelmente a dissidência e contando com subsídios e apoio político russos, retratou o levante como o mais recente desenvolvimento em um confronto entre Prigozhin e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu.
Lukashenko enquadrou a insurreição de Wagner como uma ameaça significativa, dizendo que colocou as forças armadas de Belarus em pé de combate enquanto o motim se desenrolava. Como Putin, ele expressou a guerra da Ucrânia em termos de uma ameaça existencial à Rússia, dizendo: "se a Rússia entrar em colapso, todos morreremos sob os escombros".
O Ministério da Defesa russo anunciou na terça-feira que estão em andamento preparativos para transferir o equipamento militar pesado do grupo Wagner para o Exército, após o fracasso da rebelião.
"Os preparativos estão em andamento para transferir o equipamento militar pesado de Wagner para as unidades ativas das forças armadas da Federação Russa", disse o ministério em um comunicado.