Um novo cessar-fogo entrou em vigor neste sábado (10), no Sudão, sem grandes expectativas por parte da população, depois do descumprimento de várias tréguas durante este conflito que já dura quase dois meses e provocou uma grave crise humanitária.
O Exército e os paramilitares concordaram com um cessar-fogo de 24 horas, a partir das 6h, horário da capital do país, Cartum (1h em Brasília).
Esta nova trégua foi anunciada na sexta-feira pelo mediador saudita que há semanas tenta negociar entre ambos os lados. As partes se comprometeram cessar a violência durante o cessar-fogo e permitir "a chegada de ajuda humanitária a todo o país".
Três horas após a entrada em vigor da trégua, os habitantes de diferentes bairros da capital sudanesa relataram aos jornalistas da AFP que não ouviram bombardeios, nem confrontos.
"Desde o início da guerra, é a primeira vez que todas essas horas se passam sem ouvir o som de armas. É completamente diferente", disse Hamed Ibrahim, que mora no leste de Cartum.
"Calma total" também na cidade de Omdurman, segundo o morador Othman Hamed.
"Uma trégua de um dia é muito menos do que esperamos", disse Mahmud Bashir, morador do norte de Cartum. "Esperamos que esta maldita guerra acabe", desabafou.
Este novo cessar-fogo ocorre depois de uma série de tréguas terem sido violadas desde o início deste conflito em 15 de abril entre o Exército, liderado pelo general Abdel Fatah al Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), sob comando do general Mohamed Hamdan Daglo.
A guerra já deixou mais de 1.800 mortos, segundo a organização ACLED, especializada na coleta de informação em zonas de conflito. A ONU estima que existam dois milhões de deslocados e refugiados.
Nas zonas de combate, principalmente na capital e na região de Darfur Ocidental, várias organizações humanitárias relatam uma deterioração da situação dos civis.
"Em Cartum, estimamos que apenas 20% dos centros de saúde continuam funcionando", lamentou ontem em Genebra Alfonso Verdú Pérez, membro do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
* AFP