O fogo de artilharia continua abalando a capital do Sudão nesta sexta-feira (2), apesar das sanções anunciadas pelos Estados Unidos contra o Exército e os paramilitares que disputam o poder.
Em Cartum, a capital, era possível ouvir fogo de artilharia, informaram vários moradores à AFP, depois que o Exército anunciou que havia remanejado tropas na capital.
Os confrontos entre o Exército do general Abdel Fatah al-Burhan e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), liderados pelo general Mohamed Hamdan Daglo, começaram em 15 de abril, deixando mais de 1.800 mortos e mais de 1,5 milhão de deslocados.
Os Estados Unidos, que tentaram fazer a mediação entre os dois lados junto da Arábia Saudita, anunciaram sanções na quinta-feira contra quatro empresas: dois grupos de armamento do Exército, e mais duas empresas, uma delas ligada às minas de ouro do Sudão, controladas pelos paramilitares.
Poucas horas depois, o Exército anunciou a chegada a Cartum de novas tropas de outras regiões do país. Também afirmou estar "surpreso", ao garantir que havia apresentado uma proposta de "discussões" informais que foi "ignorada".
Por sua vez, o Departamento de Estado dos EUA anunciou que o secretário Antony Blinken estará na Arábia Saudita na próxima semana, sem especificar se o Sudão estaria na agenda.
Segundo a pesquisadora Kholood Khair, o Exército estaria se preparando para lançar uma grande ofensiva em um futuro próximo. "Quer obter vitórias militares para estar em uma posição melhor, caso as negociações sejam retomadas", afirmou.
Durante quase um mês, emissários de ambos os lados negociaram para chegar a uma trégua na cidade saudita de Jidá, com a mediação dos Estados Unidos e da Arábia Saudita.
Mas as tréguas que assinaram foram sistematicamente violadas.
Antes deste novo conflito, o Sudão já era um dos países mais pobres do mundo. Agora, depois de várias semanas de guerra, 25 milhões dos 45 milhões de sudaneses não podem mais sobreviver sem ajuda humanitária, segundo a ONU.
Além disso, 75% dos hospitais do país estão fora de serviço e os que ainda funcionam quase não têm material.
Antes de entrar em conflito aberto, Burhan e Daglo deram um golpe de Estado juntos para derrubar civis do poder em 2021. Dois anos antes, sob a pressão de uma grande mobilização popular, o Exército havia derrubado o ditador Omar al-Bashir, que estava no poder há três décadas.
* AFP