A Noruega pretende abrir um número recorde de blocos para a prospecção de hidrocarbonetos no Ártico, anunciou o governo do país escandinavo nesta terça-feira (24), um projeto que gerou indignação entre ativistas ambientais.
Maior fornecedor de gás natural da Europa e importante produtor de petróleo, a Noruega propôs 92 blocos para exploração, incluindo 78 no Mar de Barents, no Oceano Glacial Ártico. Os outros 14 estarão no Mar do Norte, perto do círculo polar.
"Continuam sendo necessárias novas descobertas para seguir desenvolvendo a plataforma norueguesa", declarou o ministro de Petróleo e Energia, Terje Aasland, em comunicado.
"Facilitar novas descobertas no norte é importante tanto para a Europa como para o país e as regiões" interessadas, acrescentou.
O anúncio ocorreu durante processo de atribuição anual de licenças petrolíferas nas áreas denominadas maduras, ou seja, amplamente exploradas.
Segundo o acordo alcançado em novembro entre o governo de centro-esquerda - minoritário no Parlamento - e outro partido, a Esquerda Socialista (SV, na sigla em norueguês), a prospecção em áreas virgens não será permitida antes de 2025.
As prospecções apresentadas hoje ainda serão objeto de uma consulta pública.
"O governo prepara um amplo ciclo de concessões, extremamente agressivo, no momento em que tanto a ONU como a AIE [Agência Internacional de Energia] dizem claramente que já não há lugar para mais prospecções petrolíferas se quisermos atingir os objetivos climáticos", reagiu Truls Gulowsen, diretor do braço norueguês da ONG Amigos da Terra.
Essa organização criticou, em especial, o fato de alguns blocos estarem situados "a dezenas de quilômetros das infraestruturas existentes", algo que interpretaram como uma violação velada do compromisso de não explorar em áreas virgens.
Por sua vez, a oposição de direita, que tem interesse em defender o setor petroleiro, considerou que se trata de uma "tática" do governo para conseguir algumas cartas que poderia acabar cedendo durante negociações futuras com o SV.
A associação que representa as companhias de petróleo, Offshore Norge, declarou-se satisfeita pelas "áreas atrativas" que foram abertas à prospecção.
Os grupos petrolíferos deverão participar do processo de licitação para a concessão de exploração dos blocos no terceiro trimestre de 2023, e as licenças serão emitidas em janeiro de 2024.
Por ora, apenas dois campos estão sendo explorados em águas norueguesas no Mar de Barents, um de gás (Snøhvit) e outro de petróleo (Goliat).
* AFP