Alice Grusová, nascida em Praga, na República Tcheca, era apenas uma bebê de um ano quando aconteceu um dos períodos mais nebulosos da história da humanidade: o holocausto. Foi nessa época também que a tcheca teve sua vida marcada, quando foi deixada pelos pais, que estavam fugindo dos nazistas, e nunca mais soube notícias deles. Agora, após 80 anos, Alice conseguiu encontrar sua família. As informações são da CNN.
Em junho de 1942, os pais de Alice tentavam escapar da então Tchecoslováquia, mas o plano não deu certo. Quando o trem em que estavam chegou na cidade de Pardubice, no leste da Bohêmia, o casal foi surpreendido por soldados nazistas que estavam em busca de judeus fugitivos. Por conta disso, em uma tentativa desesperada para salvar a filha, Marta e Alexandr Knapp a deixaram em um banco da estação de trem.
Alice conseguiu escapar com vida, mas seus pais foram enviados para o campo de concentração de Theresienstadt. Pouco tempo depois, Marta e Alexandr foram deportados para um dos mais famosos campos de concentração, o de Auschwitz, onde foram assassinados. Estima-se que 70 mil pessoas morreram neste local.
Em Auschwitz, o irmão de Alice, do casamento anterior de seu pai, também foi morto. Todos esses episódios trágicos da história da tcheca permaneceram obscuros até que ela conseguiu localizar seus familiares após oito décadas.
Destino de Alice
Depois que Alice foi encontrada pelas autoridades no banco da estação de trem, ela foi encaminhada para um orfanato. Pouco tempo depois, foi transferida para a cidade de Theresienstadt, onde recebeu, junto de outras crianças, os cuidados de uma mulher e de outros trabalhadores.
Ainda criança, a tcheca teve febre tifóide e precisou se esconder diversas vezes das vistorias que eram realizadas no local por soldados alemães.
Com o fim da guerra, Alice conseguiu encontrar Edith, a irmã mais nova de sua mãe, que havia sobrevivido a Auschwitz, tendo sido posteriormente enviada para um campo de trabalho.
A tcheca viveu com sua tia até 1947, quando Edit emigrou para a Palestina. Com isso, Alice, que tinha seis anos na época, foi enviada para a adoção.
Mesmo após o abandono, Alice continuou mantendo contato por correspondência com Edith, e descobriu que ela havia se casado e tido um filho, Yossi Weiss. No entanto, em 1966, a tcheca não recebeu mais notícias de sua tia.
Família reunida
Ainda durante o início da pandemia de coronavírus, em 2020, Michalya Schonwald Moss, que mora na África do Sul, começou a investigar a história de sua família no site MyHeritage. A plataforma permite montar uma árvore genealógica para que os usuários possam tentar encontrar familiares.
Decidida a buscar informações sobre suas origens e sabendo que sua família havia sido vítima do holocausto, Michalya descobriu que 120 familiares foram mortos em Auschwitz. Apesar de ter ficado abalado com a notícia, partiu em uma nova jornada: tentar encontrar algum sobrevivente.
Com ajuda de genealogistas profissionais da Eslováquia e de Israel, Michalya descobriu que Alice era sua parente e que estava viva e também conseguiu localizar Yossi Weiss, filho de Edit (irmã mais nova da mãe de Alice), que está morando na cidade israelense de Haifa.
Graças a ajuda dos genealogistas, a africana conseguiu descobrir o contato de Alice e enviou, em 2021, um e-mail contando que era sua parente. Um dos filhos da tcheca, Jan, que é fluente em língua inglesa, conseguiu traduzir a mensagem.
Por meio da troca de mensagens com Michalya, Alice descobriu que tinha um primo, Yossi, 67 anos, e que ele estava enfrentando uma batalha contra o câncer. Pouco tempo depois, os dois se conheceram de forma virtual.
No ano passado, a tcheca, junto com seu marido, filho e nora, conseguiram viajar até Israel para conhecerem Weiss e outros membros da família. Michalya também foi até o país árabe para encontrá-los.
Como Alice não fala hebraico, língua do seu primo, nem inglês, idioma de Michalya, a tcheca precisou da ajuda do filho e de um intérprete para conseguir se comunicar com os familiares. Durante uma das conversas, descobriu que sua tia Edit havia se suicidado, assim como o filho de Yossi.
Atualmente, Alice, Yossi, Michalya e os demais membros da família permanecem unidos e mantêm contato de modo virtual. A africana também não desistiu de encontrar outros familiares e segue realizando buscas na plataforma MyHeritage, com esperança de que a família continue aumentando.
A sobrevivente nos dias atuais
Recentemente, Alice completou 81 anos de vida e 60 anos de casamento com o marido Miroslav. Os dois vivem juntos em Praga, na República Tcheca, e têm três filhos, seis netos e três bisnetos.
Alice tem formação como enfermeira pediátrica. Atualmente, está aposentada e seu maior desejo é conseguir encontrar toda a sua família e descobrir mais informações de sua história.
Em entrevista a CNN, a tcheca lamentou que tenha conseguido contato com alguns familiares somente após 80 anos e espera conseguir aproveitar ao máximo os momentos ao lado dos familiares e se reconectar com sua herança judaica.
Apesar dos obstáculos linguísticos e de tanto sofrimento, Alice e seus familiares buscam um recomeço e almejam tempos de união, esperança e amor.