O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, visitou nesta segunda-feira (14) a cidade de Kherson, no sul do país, três dias depois da reconquista da localidade e apesar da declaração do Kremlin de que a área pertence à Rússia.
— A Rússia demonstrou ao mundo que pode matar, mas todos nós, nossas Forças Armadas, nossa Guarda Nacional e os serviços de inteligência demonstraram que é impossível matar a Ucrânia — afirmou Zelensky em um comunicado divulgado da presidência ucraniana.
Com a mão no peito, assim como outros funcionários civis e militares presentes, ele cantou o hino nacional enquanto a bandeira ucraniana era hasteada diante do edifício da administração regional, no centro de Kherson.
— É importante estar aqui (...) para que as pessoas possam sentir que não são apenas palavras e promessas, e sim que realmente voltamos e hasteamos nossa bandeira — declarou Zelensky em um vídeo divulgado nas redes sociais.
— Nossos inimigos perecerão, como o orvalho ao sol, e nós também, irmãos, governaremos em nosso país. Por nossa liberdade, daremos nossas almas e nossos corpos — gritaram.
De acordo com as fotos publicadas no Telegram, Zelensky também caminhou pelas ruas da cidade, com trajes militares, cercado por seguranças armados, mas sem capacete ou colete à prova de balas. Muitas pessoas, algumas com bandeiras ucranianas, esperavam pelo presidente.
— Glória à Ucrânia! — gritaram moradores em um edifício.
— Glória aos heróis! —responderam o presidente e os seguranças, como determina a tradição.
As tropas russas abandonaram Kherson na semana passada, após oito meses de ocupação, deixando o caminho livre para que os soldados ucranianos entrassem na cidade na sexta-feira (11). O Kremlin, no entanto, insiste que a capital da região de mesmo nome, que teve a anexação anunciada por Moscou em setembro, ainda pertence à Rússia, apesar da saída de suas tropas.
— Não vamos fazer nenhum comentário, vocês sabem bem que é território da Federação Russa — respondeu o porta-voz da presidência, Dmitri Peskov, ao ser questionado sobre a viagem de Zelensky.
Kherson foi a primeira grande cidade que caiu sob controle russo após a invasão, no fim de fevereiro. A retirada forçada das tropas de Moscou devido à contraofensiva ucraniana representa um novo revés para Vladimir Putin.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, advertiu nesta segunda-feira que os "próximos meses serão difíceis" para a Ucrânia e que o objetivo do presidente russo Vladimir Putin é "deixar a Ucrânia no frio e escuro durante o inverno".
"Atrocidades"
No domingo (13), Zelensky acusou as forças russas de cometer "atrocidades" em Kherson e disse que até o momento foram documentados 400 "crimes de guerra", sem especificar se falava apenas desta região. Em Kherson, vários moradores relataram à AFP os meses de ocupação russa e alguns atos de resistência para mostrar o repúdio à anexação pela Rússia.
Volodimir Timor, um jovem de 19 anos, passou meses com os amigos analisando os movimentos dos soldados russos nas ruas da cidade e repassando as informações ao exército ucraniano.
— Informávamos tudo: onde estava o equipamento, onde armazenavam a munição, onde dormiam, para onde seguiam para beber algo — disse à AFP o jovem, que queria ser músico antes da guerra.
Na região de Luhansk, o exército ucraniano retomou a localidade de Makiivka, a 50 quilômetros da cidade estratégica de Severonetsk, controlada pela Rússia, informou a presidência ucraniana. No total, 12 localidades da região voltaram ao controle ucraniano, segundo o governador Serguei Gaidai.
O exército russo afirmou nesta segunda-feira que tomou o controle de Pavlivka, uma cidade no leste da Ucrânia, uma vitória para Moscou após semanas de recuos e retiradas.