A Rússia afirmou nesta sexta-feira (11) que concluiu a retirada de tropas da margem oeste do Rio Dnipro, depois que Moscou anunciou ter tomado a "difícil decisão" de um recuo.
"Hoje, às 5h de Moscou (23h de Brasília, quinta-feira), foi concluída a transferência das tropas russas para a margem esquerda do Rio Dnipro", afirmou o Ministério da Defesa da Rússia nas redes sociais.
A retirada é vista como um grave revés para o presidente russo, Vladimir Putin, que reivindicou no final de setembro, durante uma cerimônia com grande pompa no Kremlin, a anexação de quatro regiões ucranianas, incluindo Kherson (no sul).
Putin prometeu defender "por todos os meios" o que considera territórios russos, ameaçando, nas entrelinhas, recorrer a armas nucleares. Mas diante da contraofensiva ucraniana lançada no final do verão, o exército russo anunciou na quarta-feira que estava deixando a parte norte da região de Kherson, incluindo a capital, de mesmo nome, localizada na margem direita do Dnipro, para consolidar posições do outro lado desta barreira.
Para Kiev, a retirada é uma "vitória importante" e prova que "não importa o que a Rússia faça, a Ucrânia vencerá", afirmou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, no Twitter nesta sexta-feira. No entanto, o Kremlin assegurou que, apesar da retirada do exército russo daquele território, a Rússia continua considerando que toda a zona sul pertence ao país.
"Nenhuma mudança"
A região de Kherson "é uma questão da Federação Russa", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
— Não pode haver nenhuma mudança — acrescentou ele, no primeiro comentário da presidência russa sobre a retirada anunciada na quarta-feira.
Peskov acrescentou que a Rússia "não lamenta" a grande cerimônia realizada para a anexação. O porta-voz se recusou a comentar mais sobre a retirada — a segunda maior, após a de setembro da região de Kharkiv, no nordeste, diante da avassaladora contraofensiva ucraniana.
Putin então ordenou a mobilização de 300 mil reservistas para consolidar as linhas e recuperar a iniciativa no terreno. Dezenas de milhares de membros desse contingente já estão em zonas de combate.
A agência de notícias russa Ria Novosti divulgou imagens filmadas à noite de veículos militares russos deixando Kherson pela ponte Antonovski sobre o Rio Dnipro. Vários correspondentes russos relataram que a ponte foi destruída mais tarde, sem especificar quem o fez. Imagens publicadas nas redes sociais mostram a destruição da estrutura.
A Ucrânia reivindicou na quinta-feira a recuperação de uma dúzia de cidades no norte da região de Kherson, na margem direita do rio. O Estado-Maior ucraniano afirmou na manhã de sexta-feira que sua ofensiva "continua" e que comunicará seus resultados "mais tarde".
A Ucrânia foi cautelosa quanto à retirada das tropas russas de Kherson, temendo uma manobra de Putin, ou que o exército russo tivesse minado toda a área para dificultar ao máximo o retorno das forças ucranianas.
Bombardeios continuam
Ao mesmo tempo, a Rússia continuou bombardeando a Ucrânia. Seus últimos ataques destruíram grande parte da infraestrutura de energia, deixando várias partes do país sem energia, incluindo a capital Kiev.
Na noite de quinta-feira, pelo menos sete pessoas morreram em um ataque com mísseis a um prédio residencial na cidade de Mykolaiv, no sul da Ucrânia, disseram autoridades regionais nesta sexta.
O chefe da administração regional, Vitalii Kim, denunciou no Telegram, "uma resposta cínica do Estado terrorista aos nossos sucessos nas linhas de frente". Uma jornalista da AFP viu o prédio destruído e equipes de resgate procurando vítimas sob os escombros.
Os combates também continuam na frente leste, especialmente em Bakhmut, cidade que Moscou tenta conquistar há meses e é o principal campo de batalha onde o Exército russo, apoiado por homens do grupo paramilitar Wagner, continua na ofensiva.
Segundo a presidência ucraniana, 14 civis morreram na quinta-feira, oito na região leste de Donetsk e seis em Mykolaiv. Cada vez mais isolado, Putin não participará da cúpula do G20 na Indonésia na próxima semana. O Kremlin afirmou nesta sexta-feira que a agenda não permite que ele faça a viagem.