As inundações registradas no Paquistão deixam pelo menos 1.136 mortos no país e cerca de um terço do território submerso. Conforme as autoridades, quase um milhão de lares foram destruídos. As enchentes são consideradas as priores dos últimos 30 anos e afetam, desde junho, milhares de paquistaneses.
No pequeno vilarejo de Panjal Sheikh, no sul do país, chuvas torrenciais sem precedentes destruíram casas e inundaram plantações, levando os moradores ao desespero. Após duas semanas de chuvas incessantes, só restam paredes danificadas e objetos flutuando na água marrom. Os moradores da localidade situada a menos de 25 quilômetros das margens do Rio Indo, que atravessa o país de norte a sul, sofrem as consequências das chuvas de monção.
— Quando começou a chover, tudo começou a ser destruído — disse no domingo à AFP o morador Mukhtiar Ahmed. — Enquanto corríamos para salvar as crianças de uma casa, outra estava caindo, depois outra e outra — disse. — Todo o vilarejo foi arrasado.
O Paquistão enfrenta com frequência fortes chuvas durante a estação de monções, que vai de junho a setembro.
As chuvas, frequentemente devastadoras, também são essenciais para as plantações e restauração dos recursos hídricos. Mas, desta vez, a magnitude dos danos foi sem precedente nos últimos 30 anos, disse o primeiro-ministro Shehbaz Sharif.
Autoridades paquistanesas atribuem a devastação à mudança climática que está aumentado a frequência e intensidade dos fenômenos meteorológicos extremos em todo o mundo.
"Vilarejo arrasado"
O poder do mal tempo em Panjal Sheikh surpreendeu Ghulam Rasool, de 80 anos.
— Ouvimos um ruído muito alto de repente e não entendemos imediatamente o que estava acontecendo — disse. O idoso pensou que a casa de seu filho havia caído e que seus quatro moradores estavam mortos. Na verdade, era o som das torrentes de água.
Enquanto a família tentava em vão impedir que a água invadisse suas terras, a filha de Rasool nasceu. — Sentia dores, mas tinha medo de falar sobre isso. Até que contei para minha mãe — disse Naheed Sheikh, de 30 anos.
Sob uma chuva torrencial, a família conseguiu levá-la a um hospital precário onde foi submetida a uma cesárea. O calvário da mulher não terminou quando ela voltou para casa.
— Estava meio dormindo (...) quando sentimos que a casa começou a tremer — disse à AFP. — Saí correndo com minha filha nos braços, quando as paredes começaram a cair.
Após 13 dias de chuvas, Ghulam Rasool caminha pelo que restou do vilarejo, tropeçando nos escombros, pertences da família e pilhas de lenha com as quais ganhava a vida. Agora querem derrubar as frágeis paredes que ainda ficaram de pé para que não caiam sobre as pessoas.
— Tudo está destruído. Nem sequer podemos cozinhar — disse. — Estamos sofrendo muito e esperamos que alguém nos ajude.
Muitos sobreviventes das inundações como a enfrentada por Panjal Sheikh se deslocaram para a cidade de Sukkur com a esperança de receber ajuda. Alguns se refugiaram em barracas de plástico ao longo de uma rodovia, que balançam com a passagem de caminhões do Exército que distribuem sacos de trigo e abrigos de emergência.