As tropas de Kiev iniciaram nesta segunda-feira (29) uma contraofensiva no sul da Ucrânia para recuperar a cidade de Kherson, enquanto uma equipe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) estava a caminho da central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia.
"O exército ucraniano lançou uma ofensiva em várias partes do sul", escreveu no Telegram o governador da província de Kherson, Yaroslav Yanushevych. "Acreditamos no exército ucraniano!", assinalou, e também pediu aos moradores de Kherson que "se mantenham próximos dos abrigos e longe das posições russas".
— Hoje houve ataques potentes de artilharia contra posições inimigas no conjunto do território da província ocupada de Kherson. É o anúncio do que esperávamos desde a primavera (no hemisfério norte): o início do fim da ocupação (desta área no sul da Ucrânia) — disse na televisão Serhiy Khlan, deputado local e conselheiro do governador provincial.
O funcionário garantiu que as forças ucranianas têm vantagem na frente sul, depois de vários ataques nas últimas semanas contra pontes nessa província, cujo objetivo era comprometer a logística das tropas russas.
Os meios ucranianos citaram a porta-voz do comando sul do exército ucraniano, Natalia Gumeniuk, que afirmou que as forças de Kiev estão atacando em várias direções nesta frente.
O grupo militar ucraniano Kakhovka publicou no Facebook que observou a retirada de combatentes separatistas pró-Rússia de suas posições na região. Essas afirmações, no entanto, não puderam ser verificadas de forma independente.
O Exército russo, porém, afirmou que repeliu tentativas ofensivas ucranianas nas regiões de Kherson e Mikolaiv, no sul da Ucrânia, dizendo que infligiu pesadas perdas às forças de Kiev. "Durante o dia, sob ordens diretas de (presidente ucraniano) Volodimir Zelensky, as tropas ucranianas realizaram uma tentativa de ofensiva em três direções, nas regiões de Mikolaiv e Kherson", disse o ministério da Defesa russo em comunicado. "Esta nova tentativa de operações ofensivas do inimigo falhou", acrescentou.
"Kherson é ucraniana"
"Kherson é ucraniana. Nossa Kherson está de pé", escreveu no Twitter o chefe do gabinete presidencial, Andriy Yermak. As tropas russas tomaram a cidade de Kherson, com 280 mil habitantes e situada às margens do rio Dnieper, no começo da invasão.
A província é essencial para a agricultura ucraniana, mas também é uma posição estratégica, já que faz divisa com a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
Perigo nuclear
Mais ao norte, uma missão da AIEA deve chegar nos próximos dias à usina nuclear de Zaporizhzhia, após semanas de bombardeios e de temores de uma possível catástrofe. O diretor-geral da agência, o argentino Rafael Grossi, lidera a missão, integrada por mais de 10 pessoas, para inspecionar a central ocupada pelo exército russo desde o início da guerra.
"Chegou o dia, a missão da AIEA está a caminho de Zaporizhzhia. Devemos proteger a segurança da Ucrânia e da maior central da Europa", tuitou Grossi, adiantando que a equipe chegará esta semana. Grossi solicitava há vários meses uma visita da AIEA à central, com um alerta para o "risco real de uma catástrofe nuclear".
— Essa missão será a mais dura da história da AIEA devido às atividades de combate que a Rússia executa no local — estimou o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, em Estocolmo.
A Rússia, por sua vez, pediu uma pressão contra as forças ucranianas para reduzir a tensão ao redor da central e parar de colocar em perigo o continente europeu bombardeando as instalações e seus arredores, nas palavras do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que classificou a missão da AIEA de necessária.
Os países do G7, "profundamente preocupados", pediram garantias de acesso "com total liberdade" aos inspetores da AIEA. "Qualquer tentativa da Rússia de desconectar a central da rede elétrica ucraniana seria inaceitável", advertiu o G7.
Nesta segunda-feira, a operadora das centrais ucranianas Enerhoatom informou no Telegram que a central de Zaporizhzhia funciona com o risco de violar as regras de segurança em termos de radiações e incêndios. Segundo a operadora, 10 moradores da região ficaram feridos nos bombardeios das últimas 24 horas em Enerhodar, a localidade onde fica a central. Entre as vítimas, quatro são funcionários da usina.
"Risco de vazamento"
A Enerhoatom também destacou que as forças russas se preparam para a chegada da missão da AIEA e pressionam os funcionários da usina para impedir que coletem provas dos crimes do ocupante na central. A central de Zaporizhzhia, onde ficam seis dos 15 reatores nucleares ucranianos, foi tomada em março pelas tropas russas, pouco depois do início da invasão, em 24 de fevereiro.
Kiev e Moscou trocam acusações sobre bombardeios nas proximidades do complexo, que fica perto do Rio Dnieper, e sobre riscos para as instalações nucleares. "A infraestrutura da estação foi danificada, há risco de vazamento de hidrogênio e de pulverização de substâncias radioativas", alertou a Enerhoatom, no sábado (27).
Diante desta situação, o presidente ucraniano pediu o envio, o mais rápido possível, de uma equipe da agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre quinta e sexta-feira, a central e seus reatores de mil megawatts cada foram totalmente desconectados da rede nacional de energia por danos provocados nas linhas de transmissão, afirmou Kiev. Posteriormente, as linhas foram reconectadas.
A prefeitura de Zaporizhzhia informou que começou a distribuir, em 23 de agosto, comprimidos de iodo aos moradores em um raio de 50 quilômetros no entorno da central, seguindo as instruções do Ministério da Saúde, mas destacou que as pílulas só deveriam ser usadas em caso de alerta de radiação. Enquanto isso, os moradores se preparam para o pior.
— Vivemos o acidente de Chernobyl, a ameaça era muito grande, mas sobrevivemos, graças a Deus. Hoje, a ameaça é total, de 100% — disse Kateryna, uma aposentada.
No plano internacional, o chefe de governo da Alemanha, Olaf Scholz, defendeu nesta segunda-feira que seu país assuma uma responsabilidade especial na ajuda militar à Ucrânia e prometeu que Berlim manterá o apoio a Kiev pelo tempo que for necessário.