A futurista megalópole NEOM na Arábia Saudita se estenderá por 170 quilômetros e abrigará dois arranha-céus cobertos de espelhos, segundo novos planos revelados pelo príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman, que não deixou dúvidas sobre a viabilidade econômica e ambiental do projeto.
Chamados de "The Line", os dois enormes arranha-céus paralelos de 500 metros de altura formarão o centro da cidade sobre o Mar Vermelho, um projeto emblemático de várias centenas de bilhões de dólares de Mohammed Bin Salman, líder de fato do país, que busca diversificar a economia do reino do petróleo.
Com seus táxis voadores e robôs domésticos, NEOM deu muito o que falar desde seu primeiro anúncio em 2017, embora arquitetos e economistas questionem sua viabilidade. Inicialmente, NEOM se autodenominava um "Vale do Silício" regional, um centro de biotecnologia e de tecnologia digital com 26.500 quilômetros quadrados.
Mas na apresentação do "The Line" na noite de segunda-feira (27), o príncipe esboçou uma visão mais ambiciosa, descrevendo uma cidade utópica sem carros, a mais habitável "em todo o planeta".
A ideia é repensar a vida urbana em uma área de apenas 34 quilômetros quadrados e responder à "crise de habitação e ambiental", acrescentou, levantando mais uma vez o ceticismo entre alguns.
— O conceito evoluiu tanto desde sua concepção inicial que às vezes é difícil determinar sua direção — diz Robert Mogielnicki, do Arab Gulf States Institute, em Washington.
As autoridades mencionaram no passado que em NEOM viveriam um milhão de pessoas.
O príncipe herdeiro estabeleceu agora o limite em 1,2 milhão de habitantes em 2030 e nove milhões em 2045, apostando em um boom demográfico necessário, segundo ele, para tornar a Arábia Saudita uma potência econômica capaz de competir em todos os setores.
Em escala nacional, a meta é chegar a 100 milhões de habitantes em 2040, "cerca de 30 milhões de sauditas e 70 milhões, ou mais, de estrangeiros", contra cerca de 34 milhões de habitantes hoje, declarou Mohamed Bin Salman.
— O principal interesse da construção de NEOM é aumentar a capacidade demográfica da Arábia Saudita. E já que estamos fazendo isso do zero, por que copiar cidades normais? — detalhou.
Satisfazer todas as necessidades diárias
Com uma largura de apenas 200 metros, "The Line" deve responder à expansão urbana descontrolada e ambientalmente prejudicial, sobrepondo casas, escolas e parques, segundo o modelo de "urbanismo de gravidade zero".
Os moradores terão acesso a "todas as suas necessidades diárias" em cinco minutos a pé, além de outras facilidades como pistas de esqui ao ar livre e "um trem de alta velocidade com uma viagem de 20 minutos de ponta a ponta (da cidade)", de acordo com o comunicado de imprensa divulgado na segunda-feira (25).
NEOM também deve ser regida por uma lei própria, que está em processo de elaboração, mas as autoridades sauditas já afirmaram que não pretendem suspender a proibição do álcool imposta no país.
Outro desafio para NEOM é cumprir as promessas de proteger o meio ambiente, já que a Arábia Saudita se comprometeu - sem convencer os ativistas da área - a alcançar a neutralidade do carbono até 2060.
De acordo com um vídeo promocional divulgado na segunda-feira, o local será totalmente alimentado por energia renovável e contará com "um microclima ameno durante todo ano, com ventilação natural".
NEOM está bem posicionada para se beneficiar da energia solar e eólica e a cidade deve abrigar a maior usina de hidrogênio verde do mundo, diz Torbjorn Soltvedt, da consultoria Verisk Maplecroft.
— Mas a viabilidade de NEOM como um todo não é clara, dada a escala e o custo sem precedentes do projeto — acrescenta.
O custo da "primeira fase", que vai até 2030, é estimado em 1,2 bilhão de riais sauditas (em torno de US$ 319 bilhões), segundo o príncipe Mohammed. Além dos subsídios do governo, espera-se que o financiamento venha do setor privado e da oferta pública inicial de NEOM prevista para 2024.
O financiamento continua sendo um desafio potencial, embora o contexto atual, marcado pela alta dos preços do petróleo, seja mais favorável ao reino do que durante a pandemia da covid-19.
De qualquer modo, "o financiamento é apenas uma parte da equação", enfatiza Robert Mogielnicki.
— A demanda é mais difícil de comprar, especialmente quando as pessoas estão sendo convidadas a participar de uma experiência sobre a vida e o trabalho no futuro.