O Talibã avançou na restrição às liberdades das mulheres, ao determinar, neste sábado (7), que as afegãs usem em público um véu que as cubra dos pés à cabeça, de preferência a burca, símbolo da opressão no país.
Em um decreto publicado hoje, Hibatullah Akhundzada, chefe supremo do Talibã e do Afeganistão, ordenou que as mulheres cubram completamente seus corpos e rostos em público, dizendo que a burca é a melhor opção.
"Terão que usar um xador (termo usado para a burca) porque é tradicional e respeitoso. As mulheres que não são nem muito jovens nem muito velhas terão que cobrir o rosto quando estiverem na frente de um homem que não seja membro de sua família" para evitar provocações, especifica o texto. Se não tiver algo importante para fazer fora, é "melhor que fiquem dentro de casa", acrescenta.
O decreto também detalha as punições a que estão expostos os chefes de família que não impuserem o uso do véu integral.
"Erosão" dos progressos
Diante das novas restrições, os Estados Unidos expressaram sua preocupação. "Estamos extremamente preocupados, porque os direitos e o progresso que as mulheres e meninas afegãs fizeram e dos quais desfrutaram nos últimos 20 anos estão erodindo", disse um porta-voz do Departamento de Estado.
Washington e seus parceiros internacionais estão "profundamente preocupados com as recentes medidas tomadas pelo Talibã" em relação a mulheres e meninas, incluindo restrições à educação e a viagens, destacou o funcionário.
Desde o retorno do grupo fundamentalista islâmico ao poder, em meados de agosto, o temido Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício publicou várias ordens sobre como as mulheres devem se vestir. Mas este é o primeiro decreto nacional sobre o assunto.
Até agora, o Talibã exigia que as mulheres usassem pelo menos um hijab, um véu que cobre a cabeça, mas deixa o rosto descoberto, enquanto recomendava o uso da burca.
— O Islã nunca recomendou o xador — ressaltou uma militante dos direitos das mulheres que vive no Afeganistão.
— Os talibãs, em vez de avançar, retrocedem. Comportam-se como no seu primeiro governo, são os mesmos de 20 anos atrás — acrescentou a mulher, que não quis ser identificada.
O Talibã impôs o uso da burca durante seu primeiro regime, entre 1996 e 2001, durante o qual conduziu uma forte repressão aos direitos das mulheres, de acordo com sua rigorosa interpretação da "sharia", a lei islâmica.
Na época, os agentes do Ministério da Promoção da Virtude açoitavam as mulheres flagradas sem a burca.
Promessas não cumpridas
De volta ao poder em agosto, ao final de duas décadas de presença militar dos Estados Unidos e seus aliados no país, o Talibã prometeu estabelecer um regime mais tolerante e flexível.
Mas rapidamente tomou medidas contra as mulheres. Em março, após meses prometendo que permitiria a educação para as meninas, o Talibã ordenou o fechamento das escolas do ensino médio femininas, poucas horas depois de abrirem suas portas. Foi uma mudança de atitude inesperada, que justificou argumentando que a educação das meninas deveria ser feita em conformidade com a sharia.
O Talibã também impôs a separação entre homens e mulheres nos parques públicos de Cabul, com dias de visita alocados para cada sexo.
Também em março, os islamistas ordenaram às companhias aéreas no Afeganistão que impedissem as mulheres de voar a menos que acompanhadas por um parente do sexo masculino.
Após a chegada do Talibã, as mulheres tentaram preservar seus direitos manifestando-se em Cabul e outras grandes cidades. Mas seus protestos foram violentamente reprimidos e muitas mulheres afegãs foram detidas por semanas.