Os combates no leste da Ucrânia atingiram sua "intensidade máxima" nesta quinta-feira (26), disseram autoridades locais, que continuam exigindo mais armas dos países ocidentais para combater o poderio militar da Rússia, que, segundo o chanceler alemão Olaf Scholz, "não vencerá esta guerra".
— (O presidente russo Vladimir) Putin não deve vencer sua guerra. E estou convencido: ele não a vencerá — declarou o chefe de governo alemão em um discurso no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
Horas antes, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, e seu ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, descreveram a superioridade das forças russas no Donbass, no leste do país, onde a ofensiva russa está agora concentrada, e pediram mais apoio militar aos países ocidentais.
— O inimigo é claramente superior em termos de equipamento e número de soldados (no Donbass) — disse Zelensky. — Precisamos da ajuda de nossos parceiros e especialmente de armas.
A Alemanha é um país conhecido por sua cautela em entregar armas pesadas a Kiev, como tanques.
— Apreciamos todos os esforços do governo alemão para encontrar armamento pesado, mas não entendo por que é tão complicado — disse Kuleba.
Em seu discurso, Scholz não fez referência direta a essas críticas.
De acordo com o chanceler, Putin, que lançou sua invasão da Ucrânia há três meses, não alcançou seus objetivos estratégicos e "uma invasão de toda a Ucrânia" parece "mais distante hoje do que no início da ofensiva".
Isso se explica pela resistência "impressionante" das forças ucranianas e pela reação dos aliados ocidentais, que vão desde sanções contra Moscou até apoio militar a Kiev.
— (Mas) Não fazemos nada que possa levar a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) à guerra. Isso significaria um confronto direto entre as potências nucleares — disse Scholz. — Trata-se de fazer Putin entender que ele não será capaz de ditar a paz. A Ucrânia não a aceitará e nós também não.
"Máxima intensidade"
Os combates estão atualmente concentrados no leste do país, onde atingiram a sua "intensidade máxima", segundo a vice-ministra da Defesa ucraniana, Ganna Malyar, que alertou para uma fase "extremamente difícil" e "longa" do confronto.
O exército russo tenta tomar a cidade de Severodonetsk, que tinha cerca de 100 mil habitantes antes da guerra. A cidade é fundamental para o controle total sobre o Donbass, uma zona de mineração parcialmente ocupada desde 2014 por separatistas pró-Rússia apoiados por Moscou.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, algumas cidades e vilarejos não existem mais na região, que está sob forte bombardeio há dias.
— Foram reduzidos a ruínas pela artilharia russa, pelos sistemas russos de foguetes de lançamento múltiplo — disse o ministro, acrescentando que armas desse tipo são, precisamente, o que a Ucrânia necessita agora.
Segundo Sergei Gaidai, governador da região, a situação na cidade é "muito difícil" e a próxima semana "será decisiva". O governador informou que cerca de 15 mil pessoas permanecem em Severodonetsk e cidades vizinhas, e a maioria não quer sair apesar dos bombardeios incessantes.
Na cidade de Lysychansk, a polícia assumiu o controle dos serviços funerários para enterrar os mortos, disse Gaidai. Pelo menos 150 pessoas tiveram que ser enterradas em uma vala comum, acrescentou.
Segundo a presidência ucraniana, nas últimas 24 horas, pelo menos três pessoas morreram nessa cidade da região de Luhansk e quatro outros civis em Donetsk. Em Kharkiv, no nordeste, duas pessoas foram mortas em um bombardeio, e no sul, perto de Mikolayv, mais dois civis morreram nos combates.
Rússia acusa o Ocidente
Diante da preocupação com a atual incapacidade da Ucrânia de exportar grãos devido ao bloqueio russo de seus portos, o ministro ucraniano relatou conversas entre Kiev e a Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a possibilidade de passagem segura no porto de Odessa.
Nesta quinta-feira, as autoridades russas negaram que estão bloqueando os portos para a exportação de cereais e acusaram os países ocidentais de "terem tomado uma série de medidas ilegais" que provocaram esta situação.
— (Os países ocidentais) Devem anular essas decisões ilegais que dificultam o afretamento de navios e as exportações de grãos — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, referindo-se às sanções contra Moscou.
A Ucrânia é um grande exportador de trigo e milho, mas sua produção e vendas estão bloqueadas desde o início da ofensiva.
Nesta quinta-feira, o Banco Central da Rússia baixou sua principal taxa de juros de 14% para 11% para neutralizar o fortalecimento do rublo. As autoridades financeiras comemoraram porque "se manteve a estabilidade e se evitou uma espiral de inflação" apesar das sanções internacionais.