O presidente do Sri Lanka apresentou, nesta segunda-feira (18), um novo governo, sem dois de seus irmãos e um sobrinho, em meio a uma crise econômica histórica e com manifestações diárias da população exigindo sua renúncia.
O presidente Gotabaya Rajapaksa enfrenta uma recessão sem precedentes e seu governo busca agora um resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI).
No entanto, apesar dos anúncios do governo, dezenas de milhares de pessoas continuaram se manifestando nesta segunda em frente à sede da presidência, na capital Colombo, no décimo dia de manifestação para pedir a saída de Rajapaksa.
Dezenas de legisladores do partido no poder deram as costas ao governo e a oposição recusou os convites para se unir a um governo de unidade.
"As pessoas estão sofrendo pela crise econômica e eu lamento profundamente", disse o presidente em uma declaração ao seu novo gabinete, confessando que Sri Lanka deveria ter recorrido ao FMI "muito antes".
O presidente também admitiu que foi um "erro" proibir os agroquímicos no ano passado, uma decisão tomada com o objetivo de conservar as escassas reservas cambiais, que tiveram um efeito devastador sobre os rendimentos agrícolas.
O novo governo mantém o mesmo primeiro-ministro, Mahinda Rajapaksa, irmão mais velho do presidente.
Em contrapartida, o irmão mais velho Chamal e o mais novo Basil perderam o ministério da Irrigação e das Finanças, respectivamente.
O filho mais velho do primeiro-ministro, Namal, à frente da pasta dos Esportes, e que por um tempo foi apresentado como o futuro líder do país, também foi demitido.
O novo Executivo tem agora 21 ministros, ou seja, sete a menos que o anterior, que renunciou em bloco há duas semanas, devido à indignação da população que critica o nepotismo e os gastos públicos.
Os ministros têm à disposição vários carros de luxo, um grande contingente de guarda-costas e benefícios ilimitados para combustível, moradia e lazer.
O novo ministro das Finanças, Ali Sabry, vai liderar uma delegação aos Estados Unidos para iniciar as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) a partir de terça-feira, visando obter um resgate de 3 a 4 bilhões de dólares.
- Novo aumento do combustível -
O Sri Lanka, que enfrenta sua pior crise econômica desde a independência em 1948, suspendeu o pagamento de sua dívida externa de US$ 51 bilhões na semana passada.
A crise, devido à pandemia de covid-19 que privou o país das suas receitas turísticas, foi agravada por uma série de más decisões políticas, segundo os economistas.
Há semanas, este país insular de 22 milhões de pessoas sofre com apagões e grave escassez de alimentos, combustível e produtos farmacêuticos.
Nesta segunda-feira, a LankaIOC, grande distribuidora de combustíveis do país, anunciou um aumento de 35% dos preços.
Esta subsidiária local da Indian Oil Corporation explicou que a forte desvalorização da rupia a obrigou a prosseguir com este aumento, três semanas após um anterior aumento de 20%.
Por sua vez, a empresa pública Ceylon Petroleum Corporation, que representa dois terços do mercado varejista de combustíveis no Sri Lanka, manteve seus preços por enquanto, embora a maioria de seus postos não tenha gasolina suficiente.
Para tentar melhorar a situação, o governo passou a proibir, a partir de março de 2020, a importação de muitos produtos para preservar suas reservas em moeda estrangeira, a fim de pagar o serviço da dívida.
Há duas semanas, após uma série de renúncias entre seus aliados, o presidente Rajapaksa perdeu sua maioria parlamentar.
Os partidos da oposição, que se recusaram a aceitar a proposta de formar um governo de união liderado por Gotabaya e seu primeiro-ministro, declararam que farão todo o possível para derrubar o governo com um voto de desconfiança nas próximas semanas.
* AFP