O Peru enfrenta novamente a possibilidade de uma saída abrupta de seu presidente, um ano depois de ter tido três líderes em apenas cinco dias.
O Congresso peruano, dominado pela oposição, decidirá na próxima terça-feira (7) se aceita debater a moção de impeachment do presidente de esquerda Pedro Castillo, recordando as quedas dos líderes Pedro Pablo Kuczynski em 2018 e Martín Vizcarra em 2020.
— A ação do presidente deixa muito a desejar — disse a deputada Heidy Juárez, da Aliança para o Progresso (centro-direita), ao apoiar a moção apresentada no dia 26 de novembro por três partidos de direita, incluindo o fujimorista Força Popular.
— O objetivo desses grupos é expulsar o presidente sem sustentação nenhuma e com absoluta irresponsabilidade — reagiu Castillo em mensagem ao país na segunda-feira (29).
Castillo, um professor rural de 52 anos que derrotou em junho a direitista Keiko Fujimori, tem sido perseguido pela oposição há 120 dias, o que provocou a saída de uma dezena de ministros.
O presidente se viu afetado por um escândalo de suposta interferência de seu governo nas promoções militares, pelo que foi intimado a depor em 14 de dezembro perante a procuradora da República, Zoraida Ávalos.
Para este caso, o ministro da Defesa, Walter Ayala, e o secretário da Presidência, Bruno Pacheco, renunciaram.
O nível de reprovação do presidente passou de 46% em setembro para 57% em novembro.
— A melhor saída da crise seria a destituição de Castillo e sua vice-presidente (Dina Boluarte) e a convocação de novas eleições presidenciais — disse à AFP o sociólogo Fernando Rospigliosi, assessor de Fujimori.
— É um ataque violento da direita, porque nunca aceitaram democraticamente a derrota nas urnas — declarou por sua vez à AFP a ex-congressista e escritora de esquerda Rocío Silva Santisteban.
A admissão do debate da moção não está garantida, pois essa etapa requer 40% dos votos dos parlamentares presentes. E para destituir um presidente são necessários os votos de pelo menos 87 do total de 130 parlamentares.
A possível destituição de Castillo está no ar desde sua eleição, quando a direita denunciou "fraude", apesar do aval dado ao processo eleitoral por observadores da OEA e da União Europeia.
A incerteza política prejudica a economia peruana: o dólar está em alta enquanto o investimento privado cai, desacelerando o crescimento.
Se Castillo for afastado do cargo, a vice-presidente Boluarte assumirá, correndo o risco de enfrentar um destino semelhante.
Se também for destituída, a cadeira presidencial seria ocupada pela chefe do Congresso, a direitista María del Carmen Alva, que teria que convocar eleições em seis meses.
Silva Santisteban alerta ainda que um eventual impeachment de Castillo levará a grandes protestos, como aconteceu com Vizcarra.
— Vai haver uma mobilização contra isso, as pessoas vão sair às ruas — prevê.