Honiara, a capital das ilhas Salomão, no oceano Pacífico, parecia ter recuperado a calma neste sábado (27) após vários dias de distúrbios violentos que deixaram ao menos três mortos.
Neste sábado, três corpos foram encontrados em uma loja do bairro chinês da cidade, uma área da cidade que foi quase totalmente incendiada. São as primeiras mortes registradas desde que a violência começou na quarta-feira.
Hoje um pequeno número de comércios reabriu suas portas com prudência e os habitantes de Honiara aproveitavam a calma para comprar produtos de primeira necessidade.
"A situação é muito tensa", disse a moradora Audrey Awao, temendo que os alimentos acabem nas lojas.
O que começou como uma pequena manifestação na quarta-feira se transformou em uma violenta onda de indignação generalizada. Durante três dias, uma multidão indignada invadiu as ruas para exigir a renúncia do primeiro-ministro Manasseh Sogavare.
A economia das Ilhas Salomão, onde vivem cerca de 800.000 pessoas, está prejudicada após dois anos de isolamento devido à pandemia.
Um toque de recolher noturno e a presença de aproximadamente 150 soldados estrangeiros de uma força de manutenção da paz enviados pela Austrália e Papua-Nova Guiné ajudaram a acalmar a situação.
"A maioria das pessoas come apenas uma vez o dia", disse à AFP Douglas Kelson, diretor de um serviço de ambulâncias. "E quando as pessoas têm fome, fazem coisas que normalmente não fariam", acrescentou.
Mais de 100 pessoas foram detidas, suspeitas de terem participado dos distúrbios, segundo a polícia.
Além da indignação com o governo e as dificuldades econômicas, há outras causas que explicam essa onda de violência, como a rivalidade histórica entre os habitantes de duas ilhas, a de Malaita, a mais populosa, e a de Guadalcanal, onde está a capital administrativa do país.
Os habitantes da primeira se sentem abandonados pelo governo e as diferenças se acentuaram quando o governo de Manasseh Sogavare decidiu, em 2019, que não reconhecia mais Taiwan, apenas a China.
Os distúrbios dessa semana tomaram conta da comunidade chinesa da capital, transformada em bode expiatório das diferenças entre os residentes de Malatia, próximos a Taiwan, e o gobierno de Sogavare.
O primeiro-ministro disse que países estrangeiros que se opoõem a essa decisão de reconhecer apenas a China foram a origem desses distúrbios.
Neste sábado, os líderes da oposição querem impulsionar uma moção de censura contra o governo que poderia gerar novos protestos.
Na sexta-feira, as autoridades chinesas condenaram esses protestos e garantiram que serão velados pela "segurança e direitos dos cidadãos e instituições chinesas" nas Ilhas Salomão.
* AFP