Barbados se tornou oficialmente uma república na segunda-feira (29) à noite, em uma cerimônia na qual a rainha Elizabeth II deixou de ser a chefe de Estado da ilha. Independente do Reino Unido desde 1966, o território celebrou a transição da monarquia para o governo republicano após quase quatro séculos de sujeição à monarquia britânica.
A ilha conhecida por suas praias paradisíacas, seu rum e por ser o berço da superestrela global Rihanna, terá como chefe de Estado outra mulher, Sandra Mason, até agora governadora-geral do país, eleita em 21 de outubro.
Mason fez o juramento ao cargo à meia-noite de segunda-feira na capital do país, Bridgetown, em uma cerimônia oficial na qual também foi substituído o estandarte real pela bandeira presidencial.
— Eu, Sandra Prunella Mason, juro ser fiel e manter verdadeira lealdade a Barbados de acordo com a lei, com a ajuda de Deus — declarou a nova presidente.
Commonwealth
A cerimônia, com a presença do príncipe Charles, filho mais velho de Elizabeth II, e Rihanna, não foi aberta ao público, apesar da suspensão temporária do toque de recolher imposto devido ao coronavírus para permitir que a população aproveitasse as festividades, que incluíram fogos de artifício em toda a ilha.
— Não estou muito animado com Barbados se tornando uma república, simplesmente porque as pessoas na verdade não sabem que estamos nos tornando uma república — declarou Ian Trotman, um fabricante de tecidos de 58 anos que sentiu falta de uma campanha pública informativa.
Barbados continua sendo membro da organização Commonwealth, como observou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em um comunicado.
"Seguiremos amigos e aliados incondicionais, aproveitando as afinidades e conexões duradouras entre nossos povos e o vínculo especial da Commonwealth", escreveu Johnson.
Durante a estadia em Barbados, o príncipe de Gales foi alvo de críticas por comentários que teria feito há alguns anos sobre a cor da pele dos futuros filhos de seu filho Harry com Meghan Markle. As declarações, incluídas em um livro que será publicado nesta terça (30), foram negadas pelo gabinete do príncipe Charles:
— Isso é ficção e não merece mais comentários — disse um porta-voz da coroa britânica.
Os problemas da influência britânica e o racismo foram dois elementos-chave na decisão de Barbados de virar uma república, já que o legado de séculos de escravidão continua muito presente na ilha.
Preconceitos do passado
Entretanto, várias vozes em Barbados criticaram o governo por ter chamado o príncipe Charles para a posse de Mason como convidado de honra, e ter lhe concedido a Ordem da Liberdade de Barbados, a mais alta honraria nacional.
— A família real britânica é uma fonte de exploração nesta região e, até agora, não ofereceram um pedido formal de desculpas ou qualquer tipo de reparação pelos danos sofridos — disse Kristina Hinds, professora de Relações Internacionais da UWI. — Não vejo como alguém da família pode receber este prêmio.
Para alguns ativistas, como Firhaana Bulbulia, fundadora da Associação Muçulmana de Barbados, o colonialismo britânico e a escravidão são responsáveis pela desigualdade existente hoje na ilha.
— A desigualdade econômica, a capacidade de possuir terras e até mesmo o acesso a empréstimos bancários têm muito a ver com as estruturas construídas após o domínio britânico — afirmou Bulbulia, de 26 anos.
Alguns moradores apontam problemas mais urgentes da ilha, entre eles a crise econômica causada pela pandemia da covid-19, que colocou em evidência o quanto o país depende do turismo, em especial do Reino Unido.
Antes do surgimento do vírus, mais de 1 milhão de pessoas visitavam a ilha de 287 mil habitantes a cada ano. O desemprego é de quase 16%, 9% a mais do que nos anos anteriores, apesar do aumento dos empréstimos governamentais para financiar obras do setor público e criar empregos.