O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, admitiu pela primeira vez neste domingo (3) que os problemas de escassez generalizada no Reino Unido são relacionados ao Brexit, o divórcio britânico da União Europeia (UE), mas disse que se trata de um "momento de transição" necessário para aumentar a produtividade da economia nacional.
O tema dominou o primeiro dia da conferência anual do Partido Conservador, realizada em Manchester e a primeira presencial desde o início da pandemia. Johnson esperava usar a reunião do partido para marcar o sucesso da campanha de vacinação, mas teve que responder sobre a perspectiva de faltarem alimentos típicos da ceia de Natal britânica, como perus e frios.
A crise de abastecimento enfrentada pelos supermercados e postos de combustíveis, que se agravou nos últimos 15 dias, é provocada principalmente pela falta de caminhoneiros e de mão de obra em setores como a indústria de processamento de carnes.
Esse déficit, por sua vez, é causado em parte pela saída do Reino Unido dos trabalhadores que vinham de nações da União Europeia, já que o Brexit, que começou a vigorar em janeiro deste ano, pôs fim à livre circulação de pessoas entre o país e o bloco.
Johnson falou sobre o tema em uma longa entrevista à BBC para marcar o início do congresso partidário, quando foi questionado se os problemas atuais são uma consequência inevitável da separação da UE. Ele reconheceu o vínculo, mas afirmou que não irá retornar à "imigração descontrolada":
— O caminho em frente para o nosso país não é puxar a alavanca da imigração descontrolada e permitir a entrada de um grande número de pessoas para trabalhar. O que eu não vou fazer é regredir ao modelo antigo e fracassado de salários baixos e pouca especialização sustentado pela imigração descontrolada.
Apesar da pressão de vários setores da economia para a concessão de vistos para trabalhadores temporários, Johnson indicou que não irá ceder mais: quando os britânicos votaram pelo divórcio no referendo de 2016 e deram aos conservadores a maioria nas eleições legislativas de 2019, afirmou, também optaram pelo fim do "modelo quebrado" e da "baixa produtividade crônica" que vigorava no país.